My love affair with marriage” conta a história de Zelma, uma rapariga que cresceu na União Soviética, e das suas relações amorosas. O filme tenta, a partir das experiências da sua protagonista, refletir sobre a intersecção de vários elementos que a influenciam no seu crescimento e nas suas relações: classe social, representações de género, e neurobiologia. Ao longo de vários anos, desde a infância até aos seus vinte e muitos, vários episódios chave, acompanhados de uma secção paralela em que a biologia associada é explicada, vão sugerindo hipóteses para o que acontece na sua vida.

Não é um filme fácil, com algumas situações de abuso, nem sempre óbvio ou físico, mas que procura sempre um equilíbrio entre o que está a dizer e o humor que algumas destas situações têm (muitas vezes só reconhecível anos depois). É super ambicioso no que tenta fazer e, apesar do rigor que procura, fá-lo de forma divertida, sem perder noção da sua humanidade e, consequentemente, do seu ridículo. 

Com uma técnica de animação mista, a criatividade visual usada para representar algo, para o qual sentimos muitas vezes que nos falham as palavras, ajuda à identificação com as situações, mas também ao humor, com monstruosidades ridículas a surgirem e, estranhamente, a fazerem pleno sentido. 

Qualquer descrição é uma redução. Há qualquer coisa nas relações humanas que, por causa de toda a sua complexidade e pelo investimento emocional que fazemos nelas, parece ser irredutível e impossível de explicar. Mais, qualquer tentativa para o fazer acaba por parecer retirar agência às pessoas e reduzir-nos a animais. É possível fazer uma leitura assim de “My love affair with marriage”, mas isso é perder por completo as lições que a protagonista aprende e que dele se podem tirar e não compreender a mensagem radical de auto-afirmação e escolha que tenta passar.

Pontuação Geral
João Miranda
my-love-affair-with-marriage-o-amor-e-dificilCom uma técnica de animação mista, a criatividade visual usada para representar algo, para o qual sentimos muitas vezes que nos falham as palavras, ajuda à identificação com as situações, mas também ao humor