Angola é um país inventado. Sim, todos os países o são, mas há qualquer coisa na crueldade arbitrária colonial que originou países cujas fronteiras e possível unidade só poderiam fazer sentido para alguém que só procura controlá-los e impôs à força (militar e económica) estes conceitos. Angola é um desses países que, depois de lutar contra a ocupação colonial portuguesa, teve de sofrer muito à conta dessa unidade imaginada. “Nayola” conta partes dessas lutas internas que se seguiram à independência.

Baseada na relação de três gerações de mulheres, o filme, baseado numa peça escrita por José Eduardo Agualusa e Mia Couto, que por sua vez se baseou num conto do primeiro, foca-se principalmente na história da titular Nayola, que deixa a sua filha Yara, de apenas dois anos, com a sua mãe e parte à procura do marido que desapareceu algures no meio da guerra. O filme segue essencialmente duas linhas temporais, com estilos visuais distintos e, para além das infelizmente habituais atrocidades e tragédias de guerra, vai assumindo contornos fantásticos conforme o desespero aumenta. A história de Yara é bastante mais reduzida e há alguma insatisfação na forma como não parece ter grande resolução, mas como o próprio título indica, esta não parece ser a sua narrativa. Duvido que faça muito sentido para quem não conhece o panorama político em Angola, o que reduz esta personagem a uma espécie de MacGuffin, sem grande profundidade (o segundo do filme, com o seu pai, marido da Nayola, a ser o primeiro).

Com o imagético visual profundamente baseado em máscaras e na arte contemporânea africana, a animação tem alguma qualidade, sem nunca, no entanto, verdadeiramente surpreender. Há uma incoerência em pequenos elementos, como nas representações de plantas que nunca se parecem resolver e, a meio do filme, uma mudança nas técnicas que não parece servir grande propósito, de tão curta e desgarrada de tudo o resto. Não deixa de ser uma animação sólida e que serve a história sem se sobrepor a ela e é esse o ponto mais forte.

Pontuação Geral
João Miranda
nayola-angola-a-procura-dela-propriaUma animação sólida que serve a história sem se sobrepor a ela