Há uma corrente de pensamento que defende que a negatividade é uma forma de crítica válida, sem ter em conta os argumentos ou a forma como estes são apresentados, e que é usada de forma contínua em toda uma série de produtos mercantilizados para uma angústia imatura e consumidos essencialmente por homens. “Guerras de Unicórnios” é um desses produtos high concept em que a ideia de ter ursinhos de peluche com nomes fofinhos contra unicórnios funciona, pelo menos para quem o fez, como manifesto antiguerra e antirreligião.

É um filme que procura seguir a mesma linha de “Corações das Trevas” de Conrad, com a loucura dos atos e da animação a crescerem até um clímax caótico, procurando construir personagens com as quais possamos empatizar ou, pelo menos, dizer o que nós pensamos, mas estas acabam por ficar-se por caricaturas bastante irritantes e pouco profundas, apesar da tentativa ridícula de as psicanalisar através de flashbacks que tentam explicar aquilo que não parece ter explicação, um bocado como a Disney quando tenta redimir os seus vilões do passado.

A escolha de um imagético infantil para este tipo de conceito, acaba por implicar também o exagero do gore e dos corpos, sem que esses elementos sirvam para mais do que um cheap thrill, uma gargalhada fácil, e acaba por também limitar o final possível. Se não é óbvio o fim escolhido a pouco menos de um terço de um filme, é porque se está completamente distraído pelo fogo de artifício da animação.

Se há algo que funciona bem, mesmo com todos os seus exageros, é a animação, com momentos maravilhosos e muito bem explorados, que se soltam do formato fofo/gore escolhido e se perdem em formas com muito mais imaginação do que a história. No final, “Guerra de Unicórnios” acaba por ser vítima das suas escolhas, acabando por ficar-se mais por uma piada demasiado longa do que um argumento coerente, guiada por um pensamento imaturo que procura chocar sabe-se lá bem quem, pensando que isso é uma espécie de argumento. Se há quem fique chocado com isto, é porque estava desatento: como high concept, tudo é demasiado óbvio e limitado para conseguir surpreender, quanto mais chocar.

Pontuação Geral
João Miranda
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