Depois de “Free Guy” e antes de “Deadpool 3”, Shawn Levy reúne-se novamente com Ryan Reynolds para um projeto que no final se sente mais como um amontoado de ideias a partir de outros filmes que um objeto único, por si só capaz de ser mais que uma aventura melodramática sci-fi que apenas encaixa na estrutura do que chamamos filme para toda a família.

E “The Adam Project” começa em terreno de Spielberg (ausência paterna) e Zemeckis (viagens no tempo), colocando em cena um homem de 2050 (Ryan Reynolds) que viaja até 2022 e vai ter de lidar consigo mesmo quando tinha doze anos (Walker Scobell). Os dramas que o pequeno viveu nesta fase de passagem da infância para a idade adulta são duros, mas apenas explorados à flor da pele, como o bullying e o luto, mas foram eles que ajudaram a construir o homem que é hoje, ou seja, alguém que luta contra uma tirana do futuro (Catherine Keener) que usou as viagens temporais para construir o seu domínio.

A persona cinematográfica que Ryan Reynolds construiu nos últimos anos contribui sobremaneira para o tom humorístico permanente, mas ao invés da morbidez e negritude que vimos em “As Vozes” ou mesmo “Deadpool”, é no terreno dos lugares comuns que o filme se movimenta, num agradar a gregos e troianos apenas capaz de visitar clichês, como o terreno que separa músculos do cérebro, “nerds” de populares, e coração da razão.

The Adam Project ” não é, contudo, completamente falhado; apenas corriqueiro e pastiche na sua busca de emoções primárias no meio de ação pouco espetacular, além do fogo de artifício habitual. E até quando se coloca a grande vilã a confrontar-se consigo mesma, ou na relação amorosa entre as personagens interpretadas por Reynolds e Zoe Saldana, tudo é demasiado supérfluo e ao serviço do entretenimento generalista, não faltando até piadas ao universo Disney (“multiverso”, “sabres de luz”, “aterragem à super-herói”) para agradar e atrair a audiência dominadora na indústria. Curiosamente, isso também já existia em “Free Guy”, mas o tom satírico e alegórico dava-lhe uma camada extra de reflexão e levava o filme bem além do óbvio e de consumo imediato e esquecível.

Pontuação Geral
Jorge Pereira
José Raposo
Rodrigo Fonseca
the-adam-project-ryan-reynolds-em-modo-para-toda-a-familiaUma aventura melodramática sci-fi que apenas encaixa na estrutura do que chamamos filme para toda a família