Falar em remake cinematográfico escusado de um musical que nasceu nos palcos, teve centenas de adaptações teatrais por todo o lado, e uma cinematográfica em 1961, pode parecer redundante ou repetitivo, por isso é melhor colocar “os pontos nos is” logo no início desta avaliação ao novo “West Side Story” que Steven Spielberg filmou, e dizer frontalmente que não acrescenta absolutamente nada de relevante ao produto original, além do esperado primor técnico.

E podemos começar nos protagonistas, Ansel Elgort e Rachel Zegler, para destacar logo uma fragilidade deste “conteúdo” de 2021, ambos furos abaixo no carisma e vivacidade que Richard Beymer e Natalie Wood entregaram no passado. A nova dupla, respetivamente nos papéis de Tony e Maria, ele um branco que pertence ao gangue dos Jets, ela uma latina cujo irmão lidera os Sharks, parece mais situada num ambiente disnesco de um enésimo remake de “Cinderella”, do que propriamente numa adaptação livre de “Romeu e Julieta”, que inspirou o musical original (que se tornou um dos mais famosos do globo). “Pãezinhos sem sal”, como já ouvi repetidamente sobre os dois, é uma crítica demasiado simplória, mas efetivamente justificada dada a falta de química e empatia que a dupla nunca consegue criar com o espectador.

Depois, apesar das pinceladas próprias de Spielberg aqui e ali, em especial no olhar para os porto-riquenhos, o core explosivo desta nova visão acaba por ser tudo o que há de periférico ou adereço, ou seja, a direção artística, magistral, e a fotografia, que traz um produto antiquado para a contemporaneidade mantendo a sua forma clássica, destacando-se a tonalidade amarelada que dá um sentimento da época retratada para as exigências técnicas modernas na observação da arte cinematográfica. 

E se seria de esperar que coreografias e os temas musicais chegassem a nós de modo exemplar, até porque a base era demasiado forte para destruir e os temas abordados ressoam particularmente nos tempos atuais (descriminação, racismo, gentrificação), a verdade é que além da repetição bem instrumentada das canções de Stephen Sondheim, da orquestração de Leonard Bernstein, e do texto de Jerome Robbins, não há nada que se sinta profundamente novo ou sequer arrojado que justifique a verdadeira necessidade deste filme existir. Na verdade, não sendo um remake frame a frame, é-o praticamente de ideia a ideia, sem nenhuma alteração nos conflitos que movem a ação, mas com maiores deficiências nas interpretações centrais (apenas os secundários se mostram à altura).

Por isso, nunca se poderá definir este novo “West Side Story” como um fracasso ou um tropeção do cineasta norte-americano, pois o peso e excelência do produto original, aqui enclausurado até mais do que devia, aliado a todo o primor técnico que os bolsos largos da produção e a experiência de Spielberg trazia, dificilmente produziriam um objeto lânguido. Mas se olharmos para a carreira de um dos cineastas mais marcantes da história do cinema, esta nova versão será sempre um objeto secundário, bem longe daquilo que Spielberg já nos habituou no passado.

Pontuação Geral
Jorge Pereira
west-side-story-west-side-same-storyApesar das pinceladas de autor aqui e ali, o core explosivo desta nova visão acaba por ser tudo o que há de periférico ou adereço, ou seja, a direção artística, magistral, e a fotografia.