Depois de em 2002 ter executado a curta “Au premier dimanche matin“, que explorava um baile de aldeia, em homenagem à pequena localidade onde passava os verões, Florence Miailhe iniciou 10 anos depois aquela que viria a ser a sua primeira longa-metragem, “The Crossing”, uma animação que recorre à técnica da pintura a óleo sobre vidro para contar a história de duas  crianças que deixam a sua aldeia pilhada para tentar chegar a um país que esperam ser mais tolerante.

Coming-of-age devastador de génese biográfica (remotamente inspirada no destino da família da autora, que tinha raízes em assentamentos judaicos na antiga Rússia), em foco está o dramático tema do exílio e da expatriação em jeito de conto de fadas que viaja entre o real e o fantástico, não faltando cores vivas tingidas a negro quando o perigo se aproxima.

De uma inequívoca beleza plástica, “The Crossing” falha apenas por muitas vezes parecer mais um exercício plástico de exposição de técnica que efetivamente uma forma de servir um storytelling poético e textual que Miailhe tenta igualmente atingir. 

Ambicioso no desejo de ser um objeto com universalidade e atemporalidade, “The Crossing” certamente dirá mais a adultos que crianças, mas as várias camadas que possui na sua ação, bem como personagens empáticas que nos conquistam desde os primeiros minutos, transformam o filme num objeto pessoal de escala global e não apenas local.

Pontuação Geral
Jorge Pereira
the-crossing-fabula-negra-sobre-o-exilio-e-expatriacaoAmbicioso no desejo de ser um objeto com universalidade e atemporalidade, “The Crossing” certamente dirá mais a adultos que crianças