O cinema mexicano continua imparável na análise aos seus problemas contemporâneos baseados em disparidades sociais de origem histórica. Pegando no espírito de conquista colonialista, que fabricou uma elite que ainda hoje se sente mais próxima de Deus e eleita para liderar os outros, Joaquin del Paso desconstrói neste “El hoyo en la cerca” (The Hole In The Fence) a história mexicana, não mexendo quase uma palha no que se trata de reconstituições históricas. Ao invés ele usa a alegoria de um acampamento católico para jovens destinado a formar as elites do futuro.

Construído num terreno indígena, este espaço meticulosamente protegido do mundo exterior será abalado quando um buraco numa vedação é descoberto. Estará este espaço, destinado ao 1% da população, os extremamente ricos, em perigo? Quererão os mais pobres que os rodeiam conspurcar o lugar no mundo destes “eleitos”? E que resposta dará esta elite, regida pelo medo e sede de conquista?

Movido a uma energia fulminante e um grupo de situações revoltantes, “El hoyo en la cerca” assenta no estudo da formação de uma nova geração, treinada com pensamentos e conceitos de superioridade do passado. Isso mesmo sente-se quando um dos poucos rapazes de origem indígena é vítima de vários abusos por parte dos restantes rapazes, todos eles filhos de “gente de bem” que não tem problemas em viajar de helicóptero até ao local quando um dos seus rapazes surge com uma ferida do nariz.

Mas àparte de uma história de classes, de predadores que se alimentam dos derrotados históricos, Joaquin del Paso tem o dom de tocar em temas comuns da juventude, onde do sofredor de bullying passa rapidamente para o perpetrador como um ato de sobrevivência, variando a tonalidade do filme entre o drama e o filme de suspense, sempre com alguns códigos do cinema de horror embutidos, todos eles ligados a uma mística, uma aura negativa que carrega todos os pecados dos invasores espanhóis.

E ao mexer com todos estes temas, o realizador cria mais um filme essencial na cinematografia mexicana contemporânea, sempre com uma distinção estética, política e até filosófica de nomes como Carlos Reygadas e Amat Escalante, com quem trabalhou antes de se estrear nas longas-metragens com o impressionante “Maquinaria Panamericana” em 2016.

Pontuação Geral
Jorge Pereira
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