A prova de que não haverá limites para uma boa ideia para concretizar em filme – por mais disparatada que seja – até pode ganhar novos contornos com o inesperado e, frequentemente, arrebatador “Lamb“(Cordeiro).

Apresentado em Cannes, na secção Un Certain Regard, da qual venceu o prémio de originalidade, a primeira longa metragem de Valdimar Jóhannsson (razão pela qual foi igualmente nomeado para o prémio da Câmara de Ouro) chegou agora a Karlovy Vary a vida de um casal criador de rebanhos na Islândia cuja pacatez é assaltada quando o agregado recebe um insólito acrescento.

A ideia colhe alguma inspiração no conto checo do século XIX intitulado “Otesánek“, relatando a história de um ser de madeira, de certa forma um cruzamento entre Pinóquio e o Capuchinho Vermelho, revelando alguma incapacidade de conter o seu apetite. Mais recentemente, no ano 2000, recebeu a adaptação do casal Jan e Eva Svankmajer para um formato combinando o horror e a comédia, os homens e os animais, sobretudo estes, ao conferir-lhes uma intencionalidade que só tínhamos visto no recente “Gunda“, de Viktor Kosakovskiy.

No filme de Jóhannsson aposta-se igualmente na inquietação que pode levar ao terror insólito, embora sem abandonar totalmente o humor. No entanto, é a presença (notável!) de Noomi Rapace que lhe empresta uma muito credível dimensão a esta celebração da maternidade trazendo novas cores e atitude à solidão da paisagem islandesa.

Agrada sobretudo a simplicidade de processos e soluções narrativas, mesmo quando sugere ao espectador que se deixe transportar pelo veículo proposto. Mesmo sem chegar a deslumbrar, há algo desta simplicidade e ternura que fica a marinar. A par, claro está, de intrometer alguma fantasia no seio de um realismo natural.

Pontuação Geral
Paulo Portugal
Jorge Pereira
Guilherme F. Alcobia
Rodrigo Fonseca
José Raposo
lamb-noomi-rapace-e-a-celebracao-da-maternidade Mesmo sem chegar a deslumbrar, há algo desta simplicidade e ternura que fica a marinar