Talvez uma das maiores surpresas de Annecy – pela simplicidade da história, procedimentos, beleza gráfica e banda-sonora arrebatadora – seja “Even Mice belong in Heaven”, pequena pérola em stop-motion concretamente direcionada para um público infantil, mas que nunca se sente estupidificante, redutora ou superficial no tratamento à busca interna pela coragem e uma permanente esperança em unir o que pensávamos ser impossível.

Em foco está um rato (na verdade, uma rata), Whizzy, extremamente exibicionista que passeia frequentemente sob o olhar de uma jovem raposa macho, Whitebelly. Após uma perseguição que corre mal, ambos morrem e vão “parar ao céu”. Será aí que esses inimigos mortais vão aprender a lidar um com o outro, mostrando que nem sempre aquilo que nos dizem ser o nosso instinto e natureza não passa de uma rotulação e falso destino.

Na verdade, a nossa raposa gaga nem é grande fã de ratos e irá ajudar o pequeno roedor a encontrar o pai, esse sim que no passado foi caçado e que agora também se deve encontrar por ali.

O filme é relativamente previsível na jornada destes inimigos mortais que se tornam inseparáveis, mas pelo caminho que ambos fazem, a dupla irá viver aventuras ímpares, sempre recheadas visualmente e sonoramente de forma apurada, transportando-nos constantemente a outros tempos do cinema de animação, onde perda e construção de amizades, partilhando as diferenças, tinham tanto de brutal como de mágico.

Um belíssimo filme que nos faz olhar com muita atenção para Jan Bubenicek e Denisa Grimmová, que se apoiam num livro infantil checo, escrito por Iva Procházková, para nos oferecer um dos filmes mais doces do ano.

Pontuação Geral
Jorge Pereira
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