Sexta-feira, 3 Maio

Cannes: um primeiro olhar aos 24 filmes na corrida à Palma de Ouro

Na passada quinta-feira, 3 de junho, o delegado geral do Festival de Cannes, Thierry Frémaux, apresentou os 24 filmes que vão concorrer à Palma de Ouro, deixando nas entrelinhas, numa entrevista à Deadline, que a lista final dos filmes constantes na Seleção Oficial poderia ainda sofrer alterações. “Foram quase dois anos de seleção de filmes e o cinema francês era forte; o cinema israelita, o chinês e o russo são fortes. Num determinado momento adicionámos mais filmes – e pode até haver mais. Este é um Cannes de reunião. Será um Festival de Cannes onde será possível a todos experimentar a alegria de se verem novamente“.

Começando pela competição principal, a da corrida à Palma de Ouro, quais são as 24 obras a concurso? Aqui fica uma pequena viagem a elas.

Ahed’s Kneede Nadav Lapid

Ahed’s Knee

Escassos anos depois de conquistar o Urso de Ouro com “Sinónimos”, Lapid regressa a Cannes onde já apresentara, décadas atrás, na Cinefundation, a curta “Ha-Chavera Shell Emile”; e a longa-metragem “The Kindergarten Teacher” na Semana da Crítica.

Agora, o mais polémico dos cineastas israelitas compete mesmo ao principal prémio com a história de um homem que se divide entre duas lutas: a liberdade no seu país e a morte da mãe.

A Herode Asghar Farhadi

A Hero

Depois de “Todos lo Saben“, filmado em Espanha, Asghar Farhadi, o cineasta iraniano mais celebrado da atualidade, regressa a Cannes pela quinta vez, isto depois de ser premiado por “O Vendedor” (melhor argumento) e “O Passado” (Prémio Ecuménico)

Enraizado na realidade iraniana, mas de cariz universal, “A Hero” conta com atores locais no elenco e desenrola-se em Shiraz, uma grande cidade histórica no sul do país, a antiga capital da Pérsia. O filme  marca uma nova incursão do cineasta que ganhou notoriedade com “Uma Separaçãoe segue a história do resgate de um homem condenado por uma dívida que não pagou e que tentará convencer  o seu credor a perdoá-lo.

Se a Netflix está fora da competição à Palma de Ouro, a sua rival, a Amazon, não, já que aceita que os filmes estreiem primeiro em sala. E “A Hero” terá distribuição da Amazon.

Annettede Leos Carax

Annette

Depois de passagens por  Cannes com “Boy Meets Girl” (1984) e “Holy Motors” (2012), o francês Leos Carax regressa com o seu primeiro filme em inglês, Annette, um musical estrelado por Marion Cotillard, Adam Driver e Simon Helberg.

Los Angeles contemporânea será o cenário principal de “Annette”, que contará a história de Henry, um comediante com um feroz sentido de humor e Ann, uma cantora de renome internacional. São o casal perfeito, saudável, feliz e cheio de glamour mas o nascimento da sua primeira filha, Annette, uma rapariga misteriosa com um destino excecional, mudará as suas vidas. O filme inclui uma banda sonora original composta pelos Sparks.

Benedetta” de Paul Verhoeven

Virginie Efira em “Benedetta

Tirando o novo filme de Wes Anderson, o novo projeto do realizador de “Robocop“, “Showgirls” e “Ela” é aquele com mais “hype” de todo o certame. Selecionado pela primeira vez para o Festival de Cannes em 2020, o filme é finalmente apresentado este ano.

Baseado no livro Immodest Acts de Judith Brown (pseudónimo do casal de sucesso Judith Barnard e Michael Fain), “Benedetta” segue ascensão e queda da irmã Benedetta Carlini, abadessa do convento Madre de Dios, em Pescia, durante o Renascimento. Esta irmã ingressou no convento aos 9 anos e começou a experimentar uma série de visões sobrenaturais aos 23 anos, o que motivou uma investigação minuciosa por parte da igreja e que derivou na documentação do primeiro romance lésbico da história moderna. 

Bergman Island” de Mia Hansen-Løve

A realizadora de filmes como “Um amor de juventude” (2011), “Eden” (2014), “O que está por vir” (2014) e “Maya” (2018) regressa ao sul de França com um projeto filmado inteiramente em inglês onde seguimos a relação profissional e pessoal de um casal de realizadores americanos que se aposentou na ilha de Fårö, onde morava Ingmar Bergman, para escrever um filme.

Mia Wasikowska, Tim Roth, Vicky Krieps e Anders Danielsen protagonizam o filme.

Compartment N. 6” de Juho Kuosmanen

Depois várias curtas-metragens e passagem pela Cinéfondation de Cannes, Juho Kuosmanen apresentou a sua primeira longa-metragem, “Olli Mäki“, na Un Certain Regard de 2016, saindo premiado.

No seu novo filme, “Hytti Nro 6” no título original, o realizador filma as desventuras de uma viajante finlandesa, presa num comboio entre Moscovo e Ulaanbaatar, enquanto tenta escapar de um caso de amor.

Drive My Car” de Ryūsuke Hamaguchi

Drive My Car

O cineasta japonês Ryūsuke Hamaguchi esteve recentemente na Berlinale com “Wheel of Fortune and Fantasy” e leva agora ao Festival de Cinema de Cannes uma adaptação de um conto do famoso escritor Haruki Murakami.

Yusuke Kafuku, ator de teatro e encenador, ainda incapaz, passados dois anos, de lidar com a perda da sua esposa, aceita dirigir uma peça num festival de teatro em Hiroshima. É lá que ele conhece Misaki, uma jovem introvertida, designada para ser a sua motorista. Entre os passeios, segredos do passado e confissões sinceras serão reveladas.

Flag Day“, de Sean Penn

Duas vezes nomeado na competição à Palma de Ouro por “The Pledge” (2001) e “The Last Face” (2016), Sean Penn leva “Flag Day” a esta 74ª edição do Festival de Cannes. 

No filme, Dylan Penn (filha do ator e realizador) é uma jornalista que terá de investigar o pai, que leva uma vida dupla como falsificador, ladrão de bancos e vigarista. Josh Brolin e Eddie Marsan fazem também parte do elenco. 

Haut et fort” de Nabil Ayouch

Haut et fort”/”Casablanca Beats”

Já com doze obras nos créditos, entre longas e curtas-metragens, o franco-marroquino Nabil Ayouch regressa a Cannes com “Haut et fort” (Casablanca Beats), isto depois de passagens na Un Certain Regard com “Os Cavalos de Deus” (2012) e na Quinzena dos Realizadores com “Muito Amadas” (2015).

O seu novo filme leva-nos a um centro cultural nos subúrbios de Casablanca, com a juventude a ser apresentada em toda a sua postura e forma de ser através da cultura hip hop.

La Fracture“, Catherine Corsini

Imagem das filmagens de “La Fracture

Depois de concorrer à Palma de Ouro com  “La répétition” (2001) e com “Trois mondes” (2012) na Un Certain Regard, Corsini regressa a Cannes com “La Fracture”, projeto com Pio Marmaï, Valeria Bruni-Tedeschi e Marina Foïs no elenco.

La Fracture” é a história sufocante de um casal de duas mulheres retido, no meio da noite, entre um serviço de emergência e uma manifestação em Paris. A tensão aumenta e o casal prestes a separar-se vê-se num hospital sitiado por todos os lados.

France” por Bruno Dumont

France
Léa Seydoux em “France

Adaptado do livro de Charles Péguy, Par ce demi-clair matin, France retrata uma famosa jornalista, interpretada por Léa Seydoux, cujas ambições e fama levarão à sua ruína.

Veterano em Cannes, onde esteve presente nas duas últimas vezes com os seus musicais em torno de Joana D’Arc, Dumont já conquistou a Camera d’Or no certame com “La Vie de Jesus” e dois Grandes Prémios do Júri por “L’Humanité” e “Flandres”. 

Les intranquilles” de Joachim Lafosse

Les intranquilles”

Quarta presença do cineasta belga em Cannes, depois de duas aparições na Quinzena com “Élève libre” (2008) e “L’économie du couple” (2015), e na corrida à Palma de Ouro com “Os Nossos Filhos” (2012).

Agora o realizador apresenta “Les intranquilles“, filme onde um casal, interpretado por Leïla Bekhti e Damien Bonnard, tem de lidar com um diagnóstico de bipolaridade no seio familiar.

“Les Olympiades” de Jacques Audiard

“Les Olympiades”

Vencedor da Palma de Ouro em 2015 por “Dheepan” (2015) e Grande Prémio do Júri por “Um Profeta” (2009), Jacques Audiard tem em “Les Olympiades” a sua quinta presença em Cannes. Adaptação das BD ”Killing and Dying” de Adrien Tomine, o filme é a história de amor de quatro personagens interpretados por Noémie Merlant, Lucie Zhang, Makita Samba e Jehnny Beth. 

O nome do filme deriva do 13º arrondissement de Paris, onde se encontra o bairro de torres residenciais Olympiades, e tem ainda o atrativo de ter tido o argumento de Céline Sciamma (Retrato da Rapariga em Chamas; Petite Mamán)

L’histoire de ma femme” de Ildiko Enyedi

L’histoire de ma femme

A sexta longa-metragem do húngaro Ildiko Enyedi, premiado com a Câmara de Ouro em Cannes em 1989 (O Meu Século XX) e na Berlinale em 2017 com “Corpo e Alma”, conta com um elenco gaulês de respeito, onde encontramos Léa Seydoux, Louis Garrel, Gijs Naber e Jasmine Trinca. 

O filme é uma adaptação do romance homônimo de Milan Füst, de 1942, no qual um soldado promete casar-se com a primeira mulher que entrar pela porta do bar onde se refugiou. 

Lingui” de Mahamat-Saleh Haroun

Lingui

O aclamado realizador chadiano regressa ao cinema para narrar as angústias de uma mãe muçulmana às voltas com o desejo da filha adolescente, grávida, de fazer um aborto.

Haroun ganhou fama mundial há dez anos, ao conquistar o Prémio do Júri de Cannes com “O Homem Que Grita”e hoje é um dos nomes mais aclamados do continente africano quando se pensa em cinema. Em Cannes também marcou presença com “Grigris” (2013) e “Hissein Habré, une tragédie tchadienne” (2016).

Memória” de Apichatpong Weerasethakul

Tilda Swinton

O cineasta tailandês ganhou vários prémios em Cannes, incluindo na Un Certain Regard por “Sud sanaeha” (2002), o Prémio do Júri por “Febre Tropical” e a Palma de Ouro por “O Tio Boonmee que se Lembra das Suas Vidas Anteriores“.

No seu primeiro projeto fora da Tailândia, o realizador colaborou com Tilda Swinton.  Ela interpreta uma escocesa que, em visita à Colômbia, começa a perceber estranhos sons rodeando os seus passos, procurando encontrar uma aparência para esses ruídos. “Memoria’ compartilha muitas semelhanças com os meus outros filmes, na perceção do tempo e na utilização de recordações pessoais. Ainda é um filme pequeno, uma história simples, com sequências mais longas e menos close ups. Talvez reflita a minha relação com a Colômbia“, disse o realizador ao C7nema em fevereiro deste ano.

Nitram” de Justin Kurzel

Nitram”

O representante australiano na corrida à Palma de Ouro começou por surgir no certame na Semana da Crítica, com “Snowtown”, em 2011, dando o salto para a corrida à Palma de Ouro em 2015 com “Macbeth” (2015)

Inspirado pelo massacre de Port Arthur na Tasmânia, Justin Kurzel retrata Martin Bryant, o terrorista responsável por este massacre. Caleb Landry Jones é o protagonista.

Petrov’s Flu” de Kirill Serebrennikov 

“Petrov’s Flu”

Depois de ter sido impedido de assistir à estreia da sua última longa-metragem, “Leto” (Verão), no Festival de Cannes, por se encontrar detido, o realizador russo Kirill Serebrennikov regressou com a adaptação de um romance de Alexy Salnikov.

O filme é centrado no quotidiano de uma família pobre em tempos pós soviéticos, assolada por um surto de gripe, e que ocupa o seu dia-a-dia de uma maneira pouco usual.

Red Rocket” de Sean Baker

Depois de brilhar com “Tangerine” e principalmente com “The Florida Project”, que estreou na Quinzena dos Realizadores, Baker apresenta uma comédia negra que  narra o retorno de uma ex-atriz pornográfica à sua cidade natal, no Texas. Simon Rex e Suzanna Son são os atores principais.

The French Dispatch” de Wes Anderson

The French Dispatch

A décima longa-metragem de Wes Anderson é aquela com o elenco mais impressionante, com Bill Murray, Tilda Swinton, Frances McDormand, Owen Wilson, Willem Dafoe, Adrien Brody, Bob Balaban, Mathieu Amalric, Benicio Del Toro, Jeffrey Wright, Timothy Chalamet, Felix Moati, Guillaume Gallienne, Denis Ménochet, Benjamin Lavernhe, Alex Lawther, Kate Winslet, Léa Seydoux, Vincent Lacoste, Vincent Macaigne e Cécile de France a surgirem em cena.

Com a sua estreia adiada por um ano devido à pandemia, no filme seguimos a redação de uma publicação europeia que decide publicar uma edição especial que destaca as três melhores histórias da última década: a de um artista condenado à prisão perpétua; motins de estudantes; e um sequestro resolvido por um chef.

The Worst Person in the World” de Joachim Trier

The Worst Person in the World”

Joachim Trier competiu pela primeira vez em Cannes com “Oslo, 31 de agosto” na Un Certain Regard, regressando em 2015 com “Ensurdecedor”. Agora o norueguês apresenta “The Worst Person in the World“, onde  acompanhamos Julie, quase a fazer 30 anos e em plena crise existencial.

Vários dos seus talentos foram desperdiçados e o seu namorado, mais velho, Aksel, pressiona para terem filhos e assentarem. Mas uma noite ela invade uma festa e conhece o jovem e charmoso Eivind. Em pouco tempo, ela termina com Aksel e lança-se num novo relacionamento, esperando por novas perspetivas de vida. Porém, vai perceber que algumas escolhas de vida já ficaram para trás.  Renate Reinsve , Anders Danielsen Lie e Herbert Nordrum protagonizam o filme.

Titane” de Julia Ducournau

“Titane”

Após “Grave”, apresentado na Semana da Crítica em 2016, Julia Ducournau apresenta o seu segundo filme na competição oficial. Novamente com um trabalho de género, “Titane” tem o protagonismo entregue a Vincent Lindon e Agathe Rousselle.

Num aeroporto, fiscais da alfândega encontram um jovem com o rosto dorido e inchado. Ele diz chamar-se Adrien Legrand, alguém que desapareceu há 10 anos. Para Vincent, o seu pai, um longo pesadelo acabou, mas com a chegada do rapaz, uma série de assassinatos macabros colocam a região sob tensão.”, diz a sinopse oficial.

Tout s’est bien passé” de François Ozon

Sophie Marceau em “Tout s’est bien passé

Se tivermos em conta o facto de “Verão de 85” ter feito parte da Seleção Oficial de Cannes em 2020, mesmo que essa edição tenha sido cancelada, esta é a sexta vez que François Ozon vai estar no festival e desta vez conta com o auxílio de Sophie Marceau, André Dussollier, Géraldine Pailhas e Laëtitia Clément, além de Charlotte Rampling e Hanna Schygulla.

Nesta adaptação do romance autobiográfico homónimo de Emmanuèle Bernheim. No final de 2008, o pai da romancista francesa, então com 88 anos, foi hospitalizado após um AVC. Quando desperta, o homem agora mais fraco e dependente pede à sua filha que o ajude a morrer. 

Tre piani” de Nanni Moretti

Tre Piani

Dispensa apresentações o currículo de Nanni Moretti, que regressa a um festival onde já foi consagrado como melhor realizador (Querido Diário, 1993) e venceu a Palma de Ouro com “O Quarto do Filho” (2001). 

Em “Tre Piani”, adaptação do romance homónimo do escritor israelita Eshkol Nevo, a ação passa de Telavive para Roma, local onde seguimos três famílias que vivem em três apartamentos no mesmo prédio. No primeiro andar encontramos um casal que enfrenta a terrível suspeita de que o seu vizinho, um idoso, abusa da filha; no segundo andar, uma mãe com dois filhos, cujo marido está sempre ausente por motivos de trabalho, luta contra a solidão e o espectro da loucura; já no terceiro andar, uma juíza reformada e viúva olha para o passado com o marido enquanto escuta um atendedor de chamadas antigo. Riccardo Scamarcio (John Wick 2), Alba Rohrwacher (Feliz como Lazáro), Margherita Buy (Minha Mãe), Adriano Giannini (The Missing) e o próprio Moretti fazem parte do elenco. 

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