Depois de dramas mais sóbrios, intensos e até carregados com o peso de “história verídica” na sua base, como “Graças a Deus”, o prolífico François Ozon regressa aos thrillers sedutores repletos de nostalgia que irradiam paixão e energia sexual neste Verão de 85”, filme onde revisita com carinho e excitação o seu passado cinematográfico para mostrar o relacionamento de dois jovens durante um único verão e como isso molda a identidade sexual de um deles, e o obriga a amadurecer após uma tragédia.

Baseado livremente no romance de 1982, do autor britânico Aidan Chambers, “Dance on My Grave”, Ozon repegou e ajustou um primeiro guião que escreveu há 35 anos, e fê-lo com um avistar melancólico de alguém que olha para trás como um adulto que preenche os espaços em branco da memória com estereótipos e elementos kitsch, mas que recorda com ternura e apego os tempos em que vivia todos os dias como se fossem o último.

E nessa viagem a 1985, carregada de sol, calor e uma carnalidade que já não se via no cineasta desde “Swiming Pool, Ozon dispara “In Between Days” dos The Cure, mas escolhe “Sailing” de Rod Stewart como a marca identitária sonora de uma paixão filmada a 16 mm que é entregue ao espectador de forma anacrónica para o levar a montar um puzzle de paixão, amor e morte. É que Verão de 85” apresenta-se bifurcado em rotas temporais difusas que vão alternando na tela com a habitual desculpa da escrita literária (Coucou “Dentro de Casa“!), aqui apresentada como depoimento da tragédia anunciada, até porque logo no início somos introduzidos ao jovem Alexis Robin (Félix Lefebvre luminoso) a ser questionado pela polícia.

No final das contas, “Verão de 85” rende-se e apresenta-se como um filme ligeiro cimentado nas marcas habituais do cinema de Ozon, onde não falta sexo, amor, morte e humor negro, como quem olha para um primeiro amor e trauma de forma reflexiva, mas essencialmente como uma marca de amadurecimento pessoal e de eterna saudade.

Pontuação Geral
Jorge Pereira
Guilherme F. Alcobia
verao-de-85-amor-e-morte-a-moda-de-ozonFilme ligeiro cimentado nas marcas habituais do cinema de Ozon, onde não falta amor, sexo, morte e humor negro.