Quinta-feira, 28 Março

Visitámos a “Casa de Repouso” com Kev Adams e Thomas Gilou

Apesar de começar a sua carreira no cinema ainda antes de se tornar um comediante de stand up de excelência, com vários milhões de seguidores nas redes sociais, só depois do sucesso de “Os Profs” (2013) e “As Novas Aventuras de Aladino”, e as suas sequelas, o ator Kev Adams se tornou sinónimo de risos em terras francesas.

Da atuação à escrita foi um pequeno passo e é isso que podemos observar em “Casa de Repouso”, uma comédia atualmente em exibição nas salas nacionais onde Kev é Milann Rousseau, um pequeno criminoso de 30 anos  que, ao ser apanhado pela polícia, prefere fazer 300 horas de serviço comunitário na casa de repouso Les Mimosa em vez de ser preso.

Mas a tarefa de Milann não é fácil, até porque o nosso protagonista é pouco hostil para com os idosos. Porém, aos poucos, ele vê-se a criar laços de afecto com os utentes e quando se apercebe de que  a instituição se aproveita da vulnerabilidade dos idosos para os enganar, resolve ajudá-los.

Acima de tudo creio que consegui tocar no íntimo dos meus avós e em todos os avós que estiveram isolados durante a pandemia e tudo o que se passou”, disse Kev ao C7nema em janeiro passado. “Antes do Covid já tinha  a ideia para o filme, mas ela ganhou força durante a pandemia.”

Com a presença de um elenco de veteranos onde encontramos nomes como Gérard Depardieu, Daniel Prévost, Jean-Luc Bideau, Liliane Rovère, Mylène Demongeot, Firmine Richard e Marthe Villalonga, “Casa de Repouso” é para o realizador Thomas Gilou (“Com a Verdade me Enganas”) o filme perfeito, pois mistura “comédia, drama e até thriller” sempre com o coração no lugar certo. 

Humor em tempos de cancelamento

Devido ao avolumar de piadas que têm como alvo os idosos, além de outras a roçarem terrenos perigosos em tempos de “cancelamento” nas redes sociais, Kev Adams admite que o escrutínio é tão grande e tão rápido nos dias de hoje que só lhe resta adaptar-se. “Este é um mundo de redes sociais, onde toda a gente opina e crítica, expondo-nos a nós comediantes muito mais. Mas creio que é um mundo onde temos de manter uma ligação e partilha com as gerações que aí estão. Temos de nos adaptar, não há nada a fazer. Todas as gerações de comediantes passam por isso e todos temos de ter atenção ao que dizemos, fazemos e escrevemos. (…) Isto tudo não muda a minha maneira de ser. Sim, tudo acontece com muita rapidez atualmente e muita gente já prefere estar no tik tok a ver filmes e séries. Porém, se amas o cinema, fazes cinema, mesmo que algumas pessoas fiquem chocadas com o que fazemos. Creio que mesmo com as influências exteriores devemos continuar a fazer o que fazemos e a ser o que somos. ”

Cinema e streaming

Creio que devemos ver o cinema e o streaming como dois meios de consumo diferentes. E creio que há espaço para os dois no nosso mundo”, diz Kev, acrescentando . Já Thomas Gilou faz uma separação imediata entre fazer televisão para os canais habituais e para as novas plataformas de streaming: “Para um autor-realizador trabalhar nas plataformas é completamente diferente. Quando fazemos um filme para os canais normais, tv e cinema, temos o hábito de falar com os jornalistas, vemos os filmes em sala, a reação dos espectadores. Nas plataformas não há nada disso e as pessoas  que vêem esses filmes e séries no streaming não fazem ideia nem querem saber quem realizou o que acabaram de ver. O processo de criação, produção e lançamento é extremamente diferente. Até a legislação dos direitos de autor é diferente para as plataformas. Quando fazemos algo para TV ou Cinema, uma nova exibição permite-nos ter direitos sobre essa exibição. Nas plataformas não é assim. É um outro mundo. Não vale a pena criar ilusões. Há que trabalhar e aceitar essa perda de direitos. Como artista, vejo isso com alguma preocupação e frustração”.

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