Terça-feira, 16 Abril

Chavalas: aceitar as raízes e preservar a sororidade

O ato de renegar e de voltar a abraçar as origens, bem como a preservação da sororidade, são os dois elementos centrais de “Chavalas”, a primeira longa-metragem de Carol Rodríguez Colás que vai hoje, 25 de novembro, abrir a CineFiesta.

Com diversos elementos biográficos, o filme escrito por Carol e pela sua irmã Marina [Rodríguez Colás] leva-nos à história de Marta, uma jovem snob com pretensões no mundo da arte que se envergonha das suas raízes, mas que é forçada a voltar à cidade dos subúrbios de Barcelona onde cresceu, Cornellà, para encontrar a sua veia artística e a autenticidade que lhe é exigida.

A principal questão é a aceitação do que és para ser feliz”, explicou ao C7nema Carol Rodríguez Colás numa entrevista na passada terça-feira. “A viagem que a protagonista faz, todas nós tivemos de fazer quando saímos da cidade para estudar em Barcelona, uma grande cidade. Quando explicamos as pessoas que éramos de Cornella, o bairro que vemos no filme, elas retraiam-se, como se esse local fosse perigoso. Existem muitos preconceitos sobre os bairros periféricos de Barcelona, Na verdade, este bairro faz parte de  mim e da personagem. Não seria a mesma se não tivesse vivido lá”.

Repleto de elementos pessoais e biográficos, “Chavalas” tem nele muitos pontos onde a principal inspiração foram as vidas da dupla de escritoras. “Queria filmar no meu bairro e cidade porque me inspiram muito e a minha irmã queria falar das suas amigas (risos). Estes dois elementos juntaram-se para construirmos o guião.(…) Foi bom trabalhar com a minha irmã. Ambas temos a mesma bagagem, as mesmas vivências, a mesma família, as mesmas amigas. Somos diferentes e durante a escrita tivemos muitas vezes a ideia de largar tudo (risos). É muito duro escrever. Mas quando uma ia abaixo a outra levantava-se e pegava na escrita”.

E se a protagonista procura autenticidade para as suas ambições artísticas, a realizadora procura exatamente o mesmo ao contar a sua história. Isso mesmo reflete-se na estética que ela aplica ao seu filme: “Queria inicialmente que esta cidade fosse um elemento asfixiante. É um espaço construído nos anos 70, cresceu muito rapidamente num formato de blocos. Desejava que quando a protagonista regressasse à cidade tivesse uma sensação de estar numa prisão. Estes bairros, quanto os vemos, não são muito belos. Foram construídos sem nenhum amor, mas as pessoas tornaram-nos bonitos.”

O bairro é também ele uma personagem e cada uma das mulheres que habita nele tem sentimentos diferentes em relação a ele: “A protagonista não gosta, mas outras sentem-se felizes ali.(…) Já vi muitos filmes passados em Barcelona, estilo o ‘Vicky Cristina Barcelona’, mas nunca vi comédias passadas no tipo de bairro que apresento (…) Esta é uma história muito particular e concreta que vivemos, mas muita gente identificou-se com ela. Muita gente emocionou-se e estou contente com isso”. 

Após o sucesso de “Chavalas” em Espanha e uma boa aceitação no estrangeiro, Carol Rodríguez Colás planeia já o futuro, o qual inclui a passagem por uma residência de criatividade com o apoio da Academia de Cinema Espanhol. Além disso, tem um novo projeto, ainda na fase da escrita, onde o foco são os novos imigrantes. “Nós somos migrantes dos anos 70 e 80. Viemos da Andaluzia e outras comunidades para Barcelona, mas agora temos a chegada de gente extracomunitária, da América Latina, etc. Os protagonistas serão adolescentes migrantes que vêm para estas cidades periféricas (…) A ideia é lançar o filme em 2023”.

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