O filho de uma empregada doméstica a trabalhar para uma família rural regressa à terra natal para o funeral do pai, e assim enfrentar a pressão de substituir a figura masculina da casa. O problema: o filho Filipe é agora Elena, uma bela mulher.
É caso para dizer, antes de mais, e em jeito já de suma dos parágrafos seguintes, que a quota da letra T na competição de longas-metragens deste Queer Lisboa 19 merecia outro representante…
Se faz falta que haja mais histórias sobre a sempre complexa e fascinante temática de quem não pertence ao género com que nasceu, La Visita dispensava-se. Mauricio López Fernandez mostra um par de tiros sem repercussões no ecrã, mas ao adaptar e realizar a sua própria curta-metragem homónima de 2010, dá é um par de tiros nos pés.
Tudo parecia prometer melhor, na sinopse e mesmo na maneira como esta é concretizada na primeira bobine (não adivinhando ainda o espectador o que está para vir). É precisamente com a apresentação da loucura desmedida da família que vive na casa do campo que o filme perde a rédea.
Ao estender a sua curta, o realizador chileno comete o principal pecado de martelar a sua mensagem sob a forma de um naipe de secundários (i.e. a tal família) ironicamente mal explorados na exploração gratuita das suas taras e manias. Ninguém sairá da sala com dúvidas sobre o que se pretende passar: que a família dita “conservadora” para a qual a mãe de Elena trabalha é mais “passada dos carretos” que o pãozinho sem sal que é o transgénero, “normal” e confiante na sua transição.
Pena, pois na parcela de tempo em que não está a ser mais que óbvio, dá para apreciar até um ou outro apontamento humorístico bem inserido, por exemplo (entre outros menos intencionais). Muito pouco ainda assim para tanto aparato.
André Gonçalves