A família, conceito em permanente evolução, dizem por aí, é o pilar da sociedade, sendo frequentemente uma âncora e inspiração dos escritores e cineastas no seu processo criativo. E é a essa família, da qual ele se sente profundamente distante, que o documentarista taiwanês Elvis A-Liang Lu regressa, isto depois de receber uma chamada inesperada da mãe, a pedir-lhe para ele organizar uma sessão fotográfica que servirá no futuro para o seu serviço fúnebre.

Foi nesse telefonema imprevisto que “a ficha caiu” ao cineasta, com e esta a alcançar a noção que a progenitora estava preparada para o fim. Nisto, é aqui que ele decide fazer exatamente o percurso inverso ao que tinha feito no passado, ou seja, vai da cidade para a zona rural onde a sua família habita, decidindo filmar todos os presentes, reconciliando-se com eles e consigo mesmo durante o processo.

Do irmão cheio de esquemas, autointitulado psíquico, ao pai viciado em jogos ilegais que tem de lidar com um cancro glandular, além da mãe estar cada vez mais debilitada e entregue às superstições taoistas, Elvis A-Liang Lu vai captando pedaços do quotidiano, preso entre o sentido de missão e a redenção, aproximando-se dos elementos da família em busca de um entendimento, daquilo que eles são e porque o são. E mesmo que existam momentos difíceis de ouvir, como quando a mãe de Elvis lhe pede para deitar as suas cinzas ao mar, coisa que nunca viu na vida, “A Holy Family” é acima de tudo um filme onde a ternura do reaproximar supera os atritos, e onde o cineasta e os seus encontram uma desejada harmonia.

Destaque para o facto de Elvis A-Liang Lu optar por não ter qualquer tipo de narração em off, deixando a tarefa de decifrar e interpretar as situações para o espectador, que segue pelo filme sem qualquer guia.

No final, temos assim um filme atraente e de fácil empatia, que só perde pontos pelo seu sentido derivativo num mundo do cinema documental repleto de objetos e motivações semelhantes.

Pontuação Geral
Jorge Pereira
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