Demoníacoé o filme mais atmosférico de Neil Blomkamp, um realizador que em tempos foi um dos nomes mais falados na ficção cientifica, género onde teve a oportunidade de abordar temas políticos com uma sensibilidade que bem se pode dizer autoral. É aliás interessante pensar na súbito desaparecimento de Blomkamp do mundo do cinema, um desaparecimento não necessariamente ligado ao interregno de 6 anos que separa Demonic do anterior Chappie“: trata-se de um daqueles casos de reavaliação de popularidade, e arrisco a dizer que essa reavaliação tem ocorrrido tanto do lado do público como do lado da crítica. Não são filmes que envelheceram mal, mas mais depressa se tornam curiosidades do que propriamente clássicos.

O lado mais atmosférico deste Demoníacoé também expressão de uma maior economia de meios: já não estamos perante um blockbuster de grande escala e orçamento, com um protagonista imediatamente reconhecível, mas sim perante um regresso a uma lógica de produção em tudo devedora senão ao espírito pelo menos à atitude da série B. Seria de esperar que este ambiente fosse mais amigo do cinema de Blomkamp, mas a verdade é que este novo capítulo da carreira do realizador sul-africano não transporta consigo aquela aura de originalidade meio irreverente e esgazeada que caracterizou o início de carreira.

E mesmo assim há a novidade do horror, uma “variação” que é a bem dizer todo um subgénero dentro da ficção cientifica, mas que ainda não tinha polinizado o seu cinema. Pois bem: Demoníacoconta a história de uma relação entre uma mãe e uma filha, uma relação marcada por um trauma hediondo e que consome o filme de ponta a ponta. E como é hábito no cinema de Blomkamp encontramos um aparato tecnológico a servir de motor narrativo, no caso um mecanismo que possibilita a espacialização do inconsciente, tornando assim possível a virtualização do espaço mental de uma pessoa, uma espécie de ciberespaço mental com o qual podemos interagir e visitar. É graças a esse dispositivo que Carly (Carly Pope) consegue comunicar com a sua mãe Angela (Nathalie Boltt), uma mulher com quem perdeu a ligação à custa de um crime imperdoável.

Como não será dificil de adivinhar, tudo isto resulta melhor dentro da lógica do efeito especial sofisticado do que propriamente cinema. E mesmo ligando um gimmick ao desenvolvimento narrativo, há qualquer coisa de vago e impreciso em Demoníaco, como se Blomkmap não tivesse verdadeiramente nada a dizer e desejasse apenas e só filmar um longo efeito especial, não indo muito mais além de uma premissa que apesar de tudo não deixa de ter a sua desenvoltura.

É pouco.

Pontuação Geral
José Raposo
demoniaco-blomkamp-no-inconsciente-da-serie-bHá qualquer coisa de vago e impreciso em "Demoníaco", como se Blomkmap não tivesse verdadeiramente nada a dizer e desejasse apenas e só filmar um longo efeito especial.