Nem todas as revoluções têm finais felizes, como as que assistimos na Tunísia e Egipto no início da década de 2010, e até mais tarde na Turquia. A tentativa de revolução na Síria gerou o que gerou (uma guerra interminável e milhões de deslocados), e já bem perto do antigo bloco soviético, a revolta Arménia, tão bem retratada em “I am not alone”, serviu certamente de inspiração para outras paragens, como a Bielorrússia, o centro nevrálgico deste “Courage”, estreado na Berlinale e agora exibido no Visions du Réel.

Realizado por Aliaksei Paluyan, cujo trabalho está entre o repórter de guerra e o de cineasta, “Courage” segue três membros do Belarus Free Theatre – Denis, Maryna Yakubovich e Pavel Haradnizky – nas suas dissidências, resistência e táticas para tentar terminar os 26 anos de poder de Alexander Lukashenko, cuja liderança deveria ter sucumbido em agosto passado, quando Sviatlana Tsikhanouskaya alegou vencer a presidência, antes do atual presidente alterar os números, regras e até deter muitos candidatos a essas mesmas eleições.

Fundado em 2005, o Belarus Free Theatre foi rapidamente espalmado pela mão do poder pelo seu cariz “subversivo“, o que não afastou e silenciou estes três membros de manifestarem, de todas as formas (performances, protestos direto), a sua luta contra o poder instituído, que como seria de esperar tem o apoio do amigo russo, Vladimir Putin, também ele costumeiro em alterar as regras de mandatos que pode cumprir e deter/travar rivais. 

Entre o trabalho de observação a estas figuras da trupe e inúmeros protestos nas ruas, alguns violentos, “Courage” tem num dos seus pontos mais emocionantes o momento que muitos familiares aguardam à porta da famosa (pelos piores motivos) prisão Okrestina, à espera de novidades dos detidos, pedindo aos deuses que não tenham saído mortos das noites de combate.

E como esta revolução propriamente não se concretizou (ainda), o filme ficou-se pela exposição dos eventos em marcha, sentido-se a brutidão do seu final do documentário, pois esta é ainda é uma revolução em marcha e o poder de capturar imagens dos confrontos são chaves para a exposição da tirania.

Mas a (grande questão) que se evoca e reflete é se a luta nas condições atuais deve ser feita no exílio ou no território, especialmente quando há crianças metidas ao barulho.

No final temos assim um valoroso documentário, um documento de “guerra”, que mais dia menos dia terá continuidade, pois a luta não termina aqui.

Pontuação Geral
Jorge Pereira
coragem-quando-a-ditadura-se-transforma-em-tiraniaUm valoroso documentário, um documento de "guerra" de uma revolução em marcha