Na mesma semana em que um dos maiores festivais de cinema documental da Europa, o CPH:DOX, anunciou que a sua programação vai colocar as mudanças climáticas no topo da sua agenda, com a exibição de  ”70/30”, de Phie Ambo, como filme de abertura, no centro do velho continente, em Berlim, um outro dinamarquês, Robin Petré, estreou mundialmente “From the Wild Sea”, onde as preocupações ambientais estão também em foco. 

Realizador de trabalhos como “Pulse”, que ganhou o prémio “Verdes Anos” no Doclisboa em 2016, sobre uma das maiores quintas de veados da Europa, escondida nas colinas do sul da Hungria, Petré aponta agora baterias para o mar, filmando na Holanda e nas Ilhas Britânicas durante a pandemia do coronavírus um trabalho onde mais uma vez mostra a complexa relação entre os humanos e a natureza.

O foco é o resgate de animais marinhos que, por qualquer razão relacionada diretamente ou indiretamente à ação do homem (petróleo, plástico, mudanças climáticas que aquecem e arrefecem águas, alteram as correntes), perderam a noção das suas rotas e foram parar a locais muito distantes das suas origens ou destinos. Ou então, “atropelados” por derrames petrolíferos que os deixaram à beira da morte.

Vemos por exemplo o caso de uma foca, que na busca de alimentos ou de temperaturas mais adequadas para si, ou ainda em fuga a uma tempestade (os fenómenos extremos aumentam com o aquecimento global), foi parar ao norte de Espanha. E também vemos a invasão dos oceanos por plástico, e uma baleia de 19 metros encalhada numa praia.

Petré livra-se de qualquer narração em off e música (só surge nos créditos), deixando as imagens do sofrimento dos animais e as ações dos voluntários falarem por si, recorrendo a uma conjunto variado de planos, enquadramentos e sons naturais que transformam este num trabalho profundamente sensorial, onde são eles mesmo – objetos de obervação – que mostram com clareza e angústia o que lhes está a acontecer e ao planeta.

No final surge um final feliz e esperançoso, pelo menos para as focas que estão prestes a serem libertadas novamente para o mar, depois de serem socorridas e tratadas. Talvez com isto o cineasta queira dizer que ainda vamos a tempo de mudar e que pequenos atos, de salvar animal a animal, ajudam a preservar a vida selvagem.

Pontuação Geral
Jorge Pereira
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