A intrigante história do génio matemático e eremita social Ted Kaczynski, mais conhecido como Unabomber, que motivou nos EUA a levar a cabo a maior perseguição da história do FBI, é o foco da primeira longa-metragem de Tony Stone, exibida na secção Panorama do Festival de Berlim.

Inserida num sub-género, o de psicopatas (assassinos), que tem sempre saída no mercado comercial, de autor, ou fusão dos dois (“Se7en“, “O Silêncio dos Inocentes“, “Cabo do Medo“, “A Casa de Jack“, etc), seja no registo de ficção ou documentário, no formato filme ou série, “Ted K” foi filmado no terreno onde ficava a cabana onde durante anos Ted Kaczynski viveu, e tem o seu enredo construído como base nas 25000 páginas de escrita codificada encontrada na sua casa, nos quais resume os seus feitos, motivações e angústias.

O sul-africano Sharlto Copley, estrela de “Distrito 9”, é quem dá vida a este homem que – nos primeiros minutos – parece estar algures entre uma “Mulher em Guerra” e o John Rambo de “First Blood”, incapaz de relacionar-se com uma sociedade que parece ter entrado em guerra com o meio natural e, no processo, consigo mesmo. E se nestes primeiros momentos ele apenas se dedica a observar, deitar abaixo postes da eletricidade e a mandar uns tiros para o ar, na tentativa de travar helicópteros que circundam a sua área, rapidamente as coisas escalam para a aprendizagem de fazer bombas, tarefa mais complicada de seguir, não pela dificuldade em as fazer, mas pela falta de material (elevado custo) que até o leva a procurar trabalhos por conta de outrem. É nessa procura de emprego que conhece uma mulher por quem vai-se interessar e ter uma relação, mas nada que mude o seu desígnio autoproclamado de combater o sistema – e que inclui o matar pessoas para inspirar as outras a mudarem de comportamento.

Com passagens dos seus diários narradas em off por Copley e carregado estilisticamente na vertente estética e sonora , onde primam cores saturadas, jogos de planos e montagem que reflectem uma espiral de caos, onde não faltam sequências surreais de sonhos e pesadelos, Tony Stone consegue nos cativar a atenção e até fugir dos género de biopics comerciais cheios de tiques académicos (basta ouvir a banda-sonora e os efeitos sonoros, cheios de contradições), mas no final de contas consegue entregar pouco mais que um ensaio estimulado pela cultura do anúncio publicitário (o videoclipe), que ocasionalmente lá encontra o tom certo quando expõe a artificialidade, contradição e contraste que o próprio Ted representa para a natureza que tenta proteger.

Ainda assim, não esquecer que estamos perante um primeiro filme, e dá para perceber neste showreel do realizador, onde Copley coopera ao nunca cair no overacting, que existe aqui uma pedra em bruto pronta a ser lapidada.

Pontuação Geral
Jorge Pereira
ted-k-bem-vindos-ao-mundo-do-unabomberTony Stone consegue nos cativar a atenção e até fugir dos género de biopics comerciais cheios de tiques académicos