Tendo com base na peça End of the Rainbow, que por sua vez tem inspiração nas últimas performances da atriz/cantora Judy Garland, a estrela de filmes como O Feiticeiro de Oz e a segunda versão de Assim Nasce uma Estrela, eis uma habitual produção centrada na sua persona que acaba por funcionar graças ao trabalho de estudo da sua protagonista.

Renée Zellweger pode já ter um Óscar no seu currículo pelo desempenho em Cold Mountain, mas a atriz de O Diário de Bridget Jones desbrava a “estrada de tijolos amarelos” em direção à segunda estatueta. De momento, tal é uma aposta precoce nesta tímida temporada de prémios, porém, o seu empenho em libertar-se do boneco no qual poderia estar reduzido é de facto louvável. E não devemos sair desta premissa, Judy é Zellweger a interpretar a sua versão de Garland, ela é o filme, como a obra de Rupert Goold a presenteia com riquezas e bajulações.

De um lado há que também garantir que Garland não é uma personagem fácil, aliás, fragilizada pelas suas complexidades, essas que Zellweger abraça com vigor, acima de uma narrativa como é o costume no seio das cinebiografias oscarizadas: daquelas que tentam assumir-se como divãs de Freud numa espécie de condescendencia redentora. O final embarca nesse lugar-comum e ao mesmo tempo adquire uma fantasia que só Hollywood poderia cometer nos seus rebordos mais inocentes e doutrinados (há sempre uma epifania que nos leva a uma segunda oportunidade na vida).

Portanto, caído na analogia de Oz, essa incontornável terra do fantástico onde a nossa Judy Garland mora, a obra de Goold, é um homem de lata que vê realizado o seu coração. Pois, eis um filme afável com uma atriz que erga a figura trágica com alguma dignidade e paixão. Só faltou sair da caixa (inteleto e a coragem de prosseguir por trilhos mais ousados e intimistas), mas aí a culpa é de outros.