O tipo de cinema que defendo, principalmente no documentário, é a exposição de uma temática ou de uma ideia através de diferentes narrativas ou abordagens. Se tal não acontecer, o suposto filme-documento, uma viagem, uma perspectiva encomendada, é convertido num registo somente de realidade sem manifestação e isso acontece com o aclamado Feng Ai do muito cru Wang Bing.

A ideia de uma jornada por entre paredes de um hospital psiquiátrico chinês, visando a desumanidade na condições deste estabelecimento, como também revisitar os profundos fantasmas da loucura como entidade, era já por si um convite irrecusável a um cinema impressionável e urgente. Contudo, Wang Bing é um amante do cinema verité mais puro e não transcendente, um autêntico “anti-cineasta” de suas próprias convenções, o que se poderia tornar numa vantagem e uma rebeldia que o colocaria acima de qualquer manipulação ou embelezamento. Porém, esta é na verdade a sua maior fraqueza.

Ou seja, são quatro horas de filmagens, registos sem qualquer tipo de tratamento, corte ou montagem, é um “prato cru” sem aditivos, nem preparação, um choque frontal entre realizador e espectador que dificilmente o conseguirá apelar para esta visita, que infelizmente arrasta-se penosamente numa exploração da miséria humana. Se Wang Bing fosse um artesão cinematográfico por excelência conseguiria transcrever os seus objectivos em menos tempo, condensando e tornando a narrativa mais fluída sem qualquer tipo de impasses, é que por vezes os melhores cineastas são aqueles que tem a difícil decisão de cortar, de comprimir, de eliminar a “sequência-parasita” e, por palavras mais miúdas, converter o complicado em algo organizado.

Em Feng Ai não encontramos esse tipo de cinema como também de cineasta, detemos apenas o conceito partilhado pelos “reality shows”, revelando o quotidiano sistemático destes docentes como uma exploração tão desumana como a própria instituição de que Wang Bing filma. É que por vezes a exaustão e a duração não se apresentam como virtudes.

Pontuação Geral
Hugo Gomes
til-madness-do-us-part-por-hugo-gomesChega a ser penoso a brutalidade da narrativa em relação com a sua longa duração.