Depois da luxuria sob a desculpa de “Hakuna Matata” em Liebe (Amor), o fanatismo religioso e a disputa de crenças materializado em conflitos conjugais em Glaube (Fé), chegamos por fim a Hoffnung (Esperança), o terceiro e último capítulo de Paradies (Paraiso), a trilogia concebida pelo austríaco Ulrich Seidl de forma a concretizar uma obra-padrão do seu cinema. Pelo foi visto nesta trilogia, Seidl é um homem que se confronta com o preconceito e a hipocrisia da sociedade ocidental, para tal invoca nos seus filmes temas fortes e polémicos, dissecados através de uma operação explícita, que de certa forma menospreza as susceptibilidades dos seus espectadores. Porém é em Hoffnung que encontramos a sua fita mais leve, menos controversa e talvez, devido a isso, uma obra que transpira inocência, acontecimento raro no cinema de Seidl.

Na terceira parte seguimos ao encontro das primeiras paixões adolescentes com Melanie (Melanie Lenz), filha de Teresa do primeiro tomo e sobrinha de Anna Maria da segunda parte, que é remetida a uma colonia de férias especializada para jovens com excesso de peso, onde passa por um clima marcial e disciplinar. A viver num autêntico inferno, Melanie encontra esperanças no médico da colonia, pelo qual apaixona-se intensamente e mesmo sabendo tratar-se de um amor impossível de concretizar, a rapariga continua a “alimentar” o sonho dessa paixão proibida.

Ulrich Seidl põe de lado a polémica silenciosa e intimista que se formou como uma marca da sua cinematografia, para dedicar-se a uma obra mais estética e pouco substancial. O autor aborda temas “batidos”, recorre à previsibilidade do enredo e transforma-se num peão sobre clichés e estereótipos. Sente-se porém um receio por parte do realizador em transgredir as linhas de rebeldia da fita, devido a tal deparamos com uma obra que não traz nada de novo como também nada de cru e ácido comparado com os enésimos dramas adolescentes e os trabalhos anteriores do cineasta. Talvez o território que Ulrich Seidl decidiu envergar fora demasiado “pisado” para que ele possa extrair algo de diferente, contudo o autor apela maioritariamente ao seu visual, recorrendo demasiadas vezes à simetria dos planos, o que me traz à memória Wes Anderson, embora sem os seus distintos movimentos mecânicos. Por fim temos uma ocupação do non sense em algumas sequências, o que autentica um deslocamento do universo que o realizador havia criado anteriormente.

Contudo, o elenco encontra-se imaculado, principalmente os atores mais jovens, que fornecem realismo em sequências tão familiares para eles, o que facilita exposição de forma quase gratuita. Embora isso, “Hoffnung” não foi o desfecho que pretendíamos duma admirável trilogia, encerrando assim com uma fita demasiado leve para um autor que não o é!

Pontuação Geral
Hugo Gomes
indielisboa-2013-paradies-hoffnung-paradise-hope-por-hugo-gomesUm filme mais humorado acompanhado por um elenco imperdível