Na sua segunda longa-metragem, o cineasta francês Arthur Harari (“Diamant noir“) invade o território da Segunda Guerra Mundial no Pacífico e conta-nos a história de Hiro Onoda, um soldado japonês que permaneceu numa ilha das Filipinas – Lubang – durante 29 anos, recusando-se a acreditar que a Segunda Guerra Mundial tinha acabado.
Um fait divers que poderia gerar uma comédia com toque dramático, mas que o cineasta transforma num estudo pessoal de uma personagem, do grupo que lidera, e de muito do espírito de uma nação envolvida numa aura patriótica que nunca pondera a derrota por se sentir um povo escolhido para um desígnio imperial maior.
Movendo-se por planos longos e uma imagem envolvida num registo real e longe de qualquer exotismo estético do retrato da paisagem selvagem (Harari prefere imagens cruas às trabalhadas e saturadas), o cineasta apoia-se num grupo de atores maiores, diálogos bem elaborados e uma avaliação e construção psicológica delicada para nos dar uma história daqueles que preferem seguir uma rota pessoal e que não acreditam em ninguém fora do seu grupo. Soa a contemporânea esta parte, em tempos que muitos recusam evidências e agarram-se a histórias e fake news que os colocam a viver numa espécie de universo paralelo repleto de fantasmas e paranóias.
O ritmo do filme provavelmente não ajuda o espectador habituado a imagens rápidas que contrastam com o tempo real (slow cinema, diriam os anglo-saxónicos), mas Harari mantém-se impávido e imune a qualquer espetacularidade, preferindo paulatinamente contar a sua história repleta de momentos de tensão, drama, mas também humor.
Um bom segundo filme que merecia uma passagem pelos cinemas nacionais, nem que fosse na rota dos festivais.