O Mar … aqui acabam as palavras. Aqui acaba o Mundo que eu conheço.”

Quase como uma aura magnética, Portugal como muitos países mediterrâneos sempre declarou ser um amante do grande azul. Foi através deste que nos inspiramos para o mais recordado momento da nossa História (Descobrimentos para alguns, Expansão Marítima para outros, não estamos aqui para debater sobre isso). Como tal, essa fascinação foi traduzida (assim o tentaram) pela literatura (pela grande epopeias de Camões e da Peregrinação de Fernão Mendes Pinto), pelo teatro (Gil Vicente e as barcadas do mar do além) e, como é óbvio, pelo cinema. Nessa estância, quase todos os grandes autores da nossa cinematografia banharam-se no oceano; Pedro Costa atravessou-o e aí redescobriu-se; Manoel de Oliveira pensou no horizonte marítimo como uma nova identidade lusitana (mesmo que isso tenha gerado um dos seus filmes menores); Cláudia Varejão prometeu-nos sereias; e Joaquim Pinto aventurou-se por Rabo de Peixe, talvez sob trajetos próximos do de Rodrigo Areias.

Hálito Azul é isso mesmo, um desvio ao encontro da comunidade da Ribeira Quente, em São Miguel, nos Açores, num período crucial para o tradicionalismo de uma das suas atividades principais – a pesca. Através desse impulso, a aventura não brava os setes mares mas segue ao encontro de uma população que não esconde os seus vínculos com o Oceano, todo o seu quotidiano e atividades gira envolto desta imensidão.

Rodrigo Areias poderia seguir por dois caminhos já atravessados: ou focava-se na temática pretendida ou deambulava como uma corrente. Nesse caso, Hálito Azul apenas saboreia as ondas, flutuando pelo seu ritmo, mas nunca escapando à sua objetiva, ao mesmo tempo que nunca abraça as “marés” do cinema de investigação. Como tal, originou-se um filme polivalente nas suas abordagens, de uma certa forma invocado uma metalinguagem para que a pesquisa feita, olhando para o tradicional da mesma maneira com que encara o folclore de marujo.

Contudo, é na sua “estranheza” para com a modernidade que se vai implantando nesta comunidade, que Hálito Azul demonstra de “peito aberto” a sua renunciação pelo cinema social. Possivelmente, o dinamismo da obra fala por si e Rodrigo Areias, homem de mil ofícios e de experimentos, deixa-se banhar pela docuficção (ou pela simples encenação da realidade) para interpolar dois mundos distintos como a peça de teatro que aqui enquadra-se numa espécie de reflexo infinito.

No final deixamos Ribeira Quente envolta de mistério, os eremitas do farol previam isso, o “fim das palavras”. Deixamos sim, com saudades, porque por um lado fizemos turismo rural … não caindo no sentido pejorativo do termo. 

Pontuação Geral
Hugo Gomes
halito-azul-por-hugo-gomesFortalecendo a ligação dos portugueses com o "Grande Azul"