Na primeira edição dos Césars, depois de todas as transformações executadas na Academia Francesa para equilibrar a balança da diversidade, o filme “Les Choses qu’on dit, les choses qu’on fait” dominava as nomeações, mas foi “Adieu les cons” que conquistou a noite, ao levar para casa a grande maioria dos prémios, incluindo melhor filme, melhor realizador e melhor argumento.
Se “Été 85“, de François Ozon, tinha 12 nomeações e saiu com zero estatuetas, “Antoinette in the Cévennes“, com 8 indicações, e “Les Choses qu’on dit, les choses qu’on fait“, com 12, apenas conquistaram um prémio cada um.
Nas interpretações, Sami Bouajila foi o melhor ator por “Un fils“, e num discurso emocional afirmou que muitas vezes são os papéis que escolhem os atores e não o contrário: “Rodamos o filme no deserto de Tataouine, a poucos quilómetros da fronteira com a Líbia. Onde, na década de 1940, o meu pai, então com cerca de dez anos, cruzou a mesma fronteira ilegalmente com seu pai para chegar à aldeia de meu avô, que nunca conheci“. Também muito emocional foi o discurso de Laure Calamy (Antoinette dans les Cévennes), vencedora do prémio de melhor atriz, que precisou de uns minutos para se recompor da surpresa e agradecer o prémio. Nos secundários, venceram Émilie Dequenne (Les Choses qu’on dit, les choses qu’on fait) e Nicolas Marié (Adieu les cons).
Foi uma cerimónia repleta de nostalgia (recordaram-se pioneiros, como Tonie Marshall, a primeira mulher a conquistar o César de melhor realização), muito sentimental (homenageou-se os falecidos no último ano), e fortemente política, com mensagens contra a situação dos trabalhadores precários do mundo cultural, que subiram mesmo a palco falar da sua situação e das várias ocupações de espaços culturais em Paris, Lyon e até Limoges. Também houve discursos quanto à situação das mulheres no cinema francês, cabendo a Jeanne Balibar as palavras mais duras: “51% das mulheres francesas têm mais de 40 anos, mas no cinema apenas representam 8% dos papéis. E não estou a falar de tempo de atuação, aí deve chegar aos 2%”.
No que diz respeito à representatividade das minorias étnicas, coube ao comediante Fary e ao ator e realizador Jean-Pascal Zadi a responsabilidade do tema, com este último, premiado como maior esperança masculina do cinema gaulês um agradecimento a nomes como Omar Sy e Ladj Ly, pela abertura de portas para outros negros preencherem com mais vigor as telas de cinema. No que toca a maior esperança feminina, Fathia Youssouf (Mignonnes) conquistou o prémio.
O falecido Jean-Pierre Bacri não foi esquecido durante a cerimónia, não só porque surgiu sentado numa cadeira junto aos outros espectadores em formato de animação, mas porque conquistou, postumamente, o César pela sua carreira. Houve ainda tempo para as homenagens aos falecidos Michel Piccoli, Claude Brasseur e Jean-Claude Carrière, entre outros, e a presença em palco da trupe Splendide (Christian Clavier, Gérard Jugnot, Thierry Lhermitte, Michel Blanc, Josiane Balasko, Marie-Anne Chazel e Bruno Moynot).
Por último, realce para a vitória de melhor animação para “Josep“, de Aurel, de melhor documentário para “Adolescentes“, de Sébastien Lifshitz; e o de melhor filme estrangeiro, atribuído a “Another Round“, de Thomas Vinterberg.
A 46ª cerimónia dos Césars foi transmitida ao vivo pelo CANAL + e apresentada pela atriz Marina Foïs. Aqui ficam todos os vencedores.
MELHOR FILME
Adieu les cons de Albert Dupontel
Adolescentes de Sébastien Lifshitz
Antoinette dans les Cévennes de Caroline Vignal
Les Choses qu’on dit, les choses qu’on fait de Emmanuel Mouret
Été 85 de François Ozon
MELHOR ATOR
Sami Bouajila – Un fils
Jonathan Cohen – Énorme
Albert Dupontel – Adieu les cons
Niels Schneider – Les Choses qu’on dit, les choses qu’on fait
Lambert Wilson – De Gaulle
MELHOR ATRIZ
Laure Calamy – Antoinette dans les Cévennes
Martine Chevallier – Deux
Virginie Efira – Adieu les cons
Camelia Jordana – Les Choses qu’on dit, les choses qu’on fait
Barbara Sukowa – Deux
MELHOR ATOR SECUNDÁRIO
Edouard Baer – La Bonne épouse
Louis Garrel – ADN
Benjamin Lavernhe – Antoinette dans les Cévennes
Vincent Macaigne – Les Choses qu’on dit, les choses qu’on fait
Nicolas Marié – Adieu les cons
MELHOR ATRIZ SECUNDÁRIA
Fanny Ardant – ADN
Valeria Bruni Tedeschi – Été 85
Émilie Dequenne – Les Choses qu’on dit, les choses qu’on fait
Noémie Lvovsky – La Bonne épouse
Yolande Moreau – La Bonne épouse
MELHOR ESPERANÇA MASCULINA
Guang Huo – La Nuit venue
Félix Lefebvre – Été 85
Benjamin Voisin – Été 85
Alexandre Wetter – Miss
Jean-Pascal Zadi – Tout simplement noir
MELHOR ESPERANÇA FEMININA
Mélissa Guers – La Fille au bracelet
India Hair – Poissonsexe
Julia Piaton – Les Choses qu’on dit, les choses qu’on fait
Camille Rutherford – Felicità
Fathia Youssouf – Mignonnes
MELHOR REALIZADOR
Albert Dupontel – Adieu les cons
Sébastien Lifshitz – Adolescentes
Maïwenn – ADN
Emmanuel Mouret – Les Choses qu’on dit, les choses qu’on fait
François Ozon – Été 85
MELHOR PRIMEIRO FILME
Deux de Filippo Meneghetti
Garçon chiffon de Nicolas Maury
Mignonnes de Maïmouna Doucouré
Tout simplement noir de Jean-Pascal Zadi & John Wax
Un divan à Tunis de Manele Labidi
MELHOR ANIMAÇÃO
Calamity, une enfance de Martha Jane Cannary de Rémi Chayé
Josep d’Aurel
Petit vampire de Joann Sfar – L’avis du “Monde”
MELHOR ARGUMENTO ORIGINAL
Adieu les cons – Albert Dupontel
Antoinette dans les Cévennes – Caroline Vignal
Les Choses qu’on dit, les choses qu’on fait – Emmanuel Mouret
Deux – Filippo Meneghetti & Malysone Bovorasmy
Effacer l’historique – Benoît Delépine & Gustave Kervern
MELHOR BANDA SONORA ORIGINAL
ADN – Stephen Warbeck
Adieu les cons – Christophe Julien
Antoinette dans les Cévennes – Mateï Bratescot
Été 85 – Jean-Benoît Dunckel
La Nuit venue – Rone
MELHOR MONTAGEM
Adieu les cons – Christophe Pinel
Adolescentes – Tina Baz
Antoinette dans les Cévennes – Annette Dutertre
Les Choses qu’on dit, les choses qu’on fait – Martial Salomon
Été 85 – Laure Gardette
MELHOR ADAPTAÇÃO
Cuban Network – Olivier Assayas
La Daronne – Jean-Paul Salomé & Hannelore Cayre
Été 85 – François Ozon
La Fille au bracelet – Stéphane Demoustier
Petit pays – Eric Barbier
MELHOR FOTOGRAFIA
Adieu les cons – Alexis Kavyrchine
Adolescentes – Antoine Parouty & Paul Guilhaume
Antoinette dans les Cévennes – Simon Beaufils
Les Choses qu’on dit, les choses qu’on fait – Laurent Desmet
Été 85 – Hichame Alaouie
MELHOR DECORAÇÃO
Adieu les cons – Carlos Conti
La Bonne épouse – Thierry François
Les Choses qu’on dit, les choses qu’on fait – David Faivre
De Gaulle – Nicolas De Boiscuillé
Été 85 – Benoît Barouh
MELHOR SOM
Adieu les cons – Jean Minondo, Gurwal Coïc-Gallas & Cyril Holtz
Adolescentes – Yolande Decarsin, Jeanne Delplancq, Fanny Martin & Olivier Goinard
Antoinette dans les Cévennes – Guillaume Valeix, Fred Demolder & Jean-Paul Hurier
Les Choses qu’on dit, les choses qu’on fait – Maxime Gavaudan, François Mereu & Jean-Paul Hurier
Été 85 – Brigitte Taillandier, Julien Roig & Jean Paul-Hurier
MELHOR GUARDA-ROUPA
Adieu les cons – Mimi Lempicka
La Bonne épouse – Madeline Fontaine
Les Choses qu’on dit, les choses qu’on fait – Hélène Davoudian
De Gaulle – Anaïs Romand & Sergio Ballo
Été 85 – Pascaline Chavanne
MELHOR CURTA-METRAGEM ANIMAÇÃO
Bach-Hông de Elsa Duhamel
L’Heure de l’ours de Agnès Patron
L’Odyssée de Choum de Julien Bisaro
La Tête dans les orties de Paul Cabon
MELHOR FILME ESTRANGEIRO
1917 de Sam Mendes
La Communion de Jan Komasa
Dark Waters de Todd Haynes
Drunk de Thomas Vinterberg
Eva en août de Jonas Trueba
MELHOR DOCUMENTÁRIO
Adolescentes de Sébastien Lifshitz
La Cravate de Mathias Théry & Étienne Chaillou
Cyrille, agriculteur, 30 ans, 20 vaches, du lait, du beurre, des dettes de Rodolphe Marconi
Histoire d’un regard de Mariana Otero
Un pays qui se tient sage de David Dufresne
MELHOR CURTA-METRAGEM FICÇÃO
L’Aventure atomique de Loïc Barché
Baltringue de Josza Anjembe
Je serai parmi les amandiers de Marie Le Floc’h
Qu’importe si les bêtes meurent de Sofia Alaoui
Un adieu de Mathilde Profit
