No Louvre as estátuas ganham vida quando o museu encerra, a noite cai e as luzes se apagam. Bem vindos ao novo “desvario” de Gabriel Abrantes, curta-metragem inspirada num conto de Hans Christian Andersen que mistura imagem real e animação para – mais uma vez – através da comédia tocar em temas políticos, um olhar de fora para a atualidade, para os protestos, atentados à democracia e porque não os coletes amarelos.

Tal como em Diamantino, mais uma vez temos uma personagem principal ingénua que precisa encontrar mais algum sentido para a sua vida, mas desta vez na forma de uma estátua (Denon) definida pelos visitantes do famoso museu como banal que decide quebrar as regras e sair do museu durante a noite para seguir um guia que a fascinou. É já nas ruas de Paris, de colete colocado, que é atropelada, participa numa manifestação contra o estado das coisas (os ricos cada vez mais ricos, os pobres cada vez mais pobres) e é vítima de uma carga policial.

É um retrato hilário, muito mais comedido – no tom estapafúrdio – que o de Diamantino (talvez pela menor duração), mas que mais uma vez mostra um Gabriel Abrantes irreverente (mas mais maduro) num panorama nacional cada vez mais entregue à separação das águas entre um cinema comercial que tanto busca influências no cinema americano (sem o conseguir imitar) como na linguagem de TV, e um cinema de autor de influências muito fortes no docudrama e no registo umbiguista.

Um belo exercício que fez as delícias da Quinzena dos Realizadores e do Curtas Vila do Conde, onde conseguiu dois prémios.

Pontuação Geral
Jorge Pereira
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