É inevitável não nos lembrarmos de Eric Garner e George Floyd no início deste “Shorta”, thriller dinamarquês de alta voltagem impróprio para cardíacos. Uma intervenção policial, um homem no chão, um par de policias a detê-lo e um suspiro de sofrimento: “Não consigo respirar”.

A partir daqui começa uma obra musculada movida a speeds que coloca dois polícias presos no meio de uma área “problemática” de maioria árabe quando começam violentos motins. Aquele homem que não conseguia respirar, acaba de morrer. O circo está montado, qual “La Haine” (O Ódio) qual quê, mas mais que Kassovitz, este filme de ação trepidante transforma-se numa fuga dramática pela sobrevivência sem deixar o próprio espectador respirar. É um verdadeiro western urbano, um Peckinpah (Rio Bravo) via Carpenter (Assalto à 13ª Esquadra), via Gareth Evans (The Raid), em solo dinamarquês, com a brutalidade policial e a tensão racial a darem-nos sucessivos shots de adrenalina.

O tema não é propriamente novo nestas paragens, sendo o recente “Sons of Denmark” um indicador disso mesmo, mas se este último se perdia no meio político e da extrema-direita, “Shorta” (que significa polícia em árabe) mantém-se nas ruas, com os dois policias “atrás das linhas inimigas”, vindo ainda à cabeça o também bem conseguido “74’” de Yan Dammage.

Mas nem tudo é ação, quando temas como a brutalidade policial e o racismo estão em cima da mesa. “Shorta” é igualmente um filme político, uma analise social e, principalmente, um objeto sobre a lealdade “com os seus”, um estudo sobre um círculo de violência polarizante, vincando e extremando as posições opostas entre as peças em conflito. Mas Frederik Louis Hviid e Anders Ølholm, os realizadores, não se ficam por aqui e operam, com base na experiência traumática da fuga dos dois homens, transformações orgânicas nas suas posturas, entregando ao espectador doses elevadas de imprevisibilidade. 

No final, temos um grande thriller de ação, mostrando que a Dinamarca, seja numa secretária (O Culpado), seja nas ruas das suas cidades (Shorta), domina completamente a linguagem do suspense.

A não perder.