Munindo-se das armas observacionais do cinema verité, Mayye Zayed viaja neste “Lift Like a Girl” pelo universo do halterofilismo no Egito, centrando a sua atenção numa figura que por si só dava um filme, o Capitão Ramadan.

As mulheres precisam ser fortes como um touro”, ou “já não é moda apenas focar a atenção nos filhos homens” são frases soltas por uma figura rude, crua mas definitivamente terna em diferentes momentos de um documentário que depois de estrear em Toronto está em competição no Festival do Cairo.

Com casos de sucesso na família – a sua filha Nahla é uma medalhista olímpica (ouro) e a sua irmã Nagham conquistou o bronze ainda em júnior – o Capitão Ramadan tem agora como tarefa educar uma nova geração de halterofilistas, com destaque para a poderosa, mas muito inconsistente, Zebiba, uma verdadeira promessa como atleta que consegue levantar grandes pesos para a sua idade e categoria, mas que precisa – qual diamante em bruto – ser lapidado, incentivado e guiado.

Sucedendo-se os desaguisados entre treinador e alunas, “Lift Like a Girl” não é apenas uma incursão no mundo do desporto e da criação de atletas, mas uma viagem social à condição da mulher, à pobreza e à degradação generalizada da paisagem urbana. É também uma análise aos escassos recursos de um país que tenta competir de igual para igual nas competições internacionais com verdadeiros profissionais dos países mais desenvolvidos, algo que já sabíamos e que tem levado ao constante imprimir das desigualdades globais no acesso a medalhas.

Mayye Zayed canaliza através da montagem uma narrativa de superação e resiliência, com algum melodramatismo pelo caminho, mas é nas entrelinhas, na observação do ambiente em torno destas atletas que reside a maior riqueza de um documentário que poderá até ter alguma força para os prémios da temporada.

Pontuação Geral
Jorge Pereira
lift-like-a-girl-o-capitao-ramadan-e-as-suas-pupilasMunindo-se das armas observacionais do cinema verité, Mayye Zayed viaja neste “Lift Like a Girl” pelo universo feminino do halterofilismo no Egito