Objeto particular com uma toada e história universal, pois afinal de contas a migração forçada pela pobreza, guerra e condições políticas e sociais problemáticas são a matéria prima para a criação de refugiados, “Interdit aux chiens et aux italiens” (Interdito aos Cães e aos Italianos) arrancou aplausos e prémios em Annecy antes de chegar à Monstra.

Tanto filme de ficção com elementos do documentário, como incorporando a sua própria construção, em jeito de making of, esta fita que funde animação stop motion, imagem real e fotografias de arquivo serve de homenagem do realizador, Alain Ughetto, aos avós, Luigi e Cesira, italianos pobres do Piemonte no início do século XX que passaram por todos os percalços dessa época rodeados de miséria. O espectador é então levado numa jornada pessoal que sobreviveu no tempo e é mostrada nos livros de História de hoje como um dos períodos mais negros da humanidade: a História europeia da primeira metade do século XX, quando a fome, doenças (Gripe Espanhola), migrações ( e racismo), fascismo e guerra (Itália na Líbia/2ª Guerra Mundial) se apoderaram do dia a dia e marcaram diversas gerações até hoje. 

Luigi era o meu avô italiano e o meu pai contava-me que na pequena cidade italiana de onde ele provinha todos os habitantes chamavam-se Ughetto. Quando morreu, esse mistério permaneceu em mim. Fui a Itália ver se essa cidade existia. E existe”, disse Alan, que não esconde que esta narrativa comece no “eu” para contar a história de Luigi, mas que se transforma num “nós” já que conta a “história de várias gerações de emigrantes italianos que foram para outros países construir barragens estações de comboio e túneis”.

Na construção dos cenários, o cartão foi por exemplo muito utilizado para as casas, tal como o carvão para fazer as decorações montanhosas. E todos os detalhes – como o guarda-roupa e a decoração de interiores – foram minuciosamente elaborados e analisados pelo cineasta, que no final elabora um trabalho com uma sensibilidade muito distinta, informando sobre as condições precárias de uma época sem nunca cair num ato propagandista ou excessivamente didática.

Nisto, “Interdit aux chiens et aux italiens” consegue fundir o objeto pessoal de interesse histórico universal, usando para isso todas as ferramentas técnicas cinematográficas disponíveis que tornam este pequeno projeto de 1h10 minutos numa pepita de ouro da animação contemporânea e um registo histórico para levar para o futuro.


Crítica de João Miranda

Pontuação Geral
Jorge Pereira
João Miranda
interdito-aos-caes-e-aos-italianos-o-filme-que-tambem-e-making-ofTanto filme de ficção com elementos do documentário, como incorporando a sua própria construção, em jeito de making of, esta fita que funde animação stop motion, imagem real e fotografias de arquivo serve de homenagem do realizador, Alain Ughetto, aos avós