Na última década, dentro daquilo que chega ao ocidente via “label” Iranian Independents, além de Shahram Mokri, se há nome que tem mostrado uma vitalidade tremenda e engenho na concretização das suas produções, todas elas com recursos muito limitados, mas muito ambiciosas no espectro pessoal, político e social, Saeed Roustayi tem sido um dos nomes de maior destaque.

Depois de dar nas vistas com “Blockage”  [passou em competição no Fest em Espinho], onde acompanhava a polícia  num exercício debruçado sobre a corrupção moral, o jovem cineasta elevou a fasquia com “Just 6.5” [A Lei de Teerão], um filme policial que se transforma em drama prisional e filme de tribunal, sempre de olho numa análise política aos resultados alcançados pela política contra o narcotráfico no Irão.

Quatro anos depois dessa “bomba”, que conseguiu sucesso comercial em mercados como França e Portugal, Saeed Roustayi reduz a escala de analise, mas nunca a ambição nem o poder da palavra, com “Leila’s Brothers”, um filme que acompanha uma família em plena crise e à beira de um ataque de nervos quando a figura patriarcal decide aceitar o convite de um primo e doar 40 moedas de ouro, estabelecendo-se como o patriarca da família. Com capacidade monetária reduzida, mas o orgulho abalado à espera de reconhecimento alheio, pouco interessa a esse homem se a oferta coloca em risco o frágil património que detém, e ainda menos o que poderá deixar como legado aos 4 filhos e à filha, a Leila que dá título ao filme.

Na verdade, no reino dos filhos homens, parasitagem e incompetência abundam. Uns desempregados, outros envolvidos em esquemas fraudulentos, outros ainda empregados, mas com poucos recursos, todos eles preferem que o pai gaste o pouco dinheiro que tem nas suas prospectivas de negócio e não num evento tão superficial como um casamento. Já Leila, a única mulher da família além da mãe, ela é basicamente a única assalariada regular, sustentando sozinha os quatro irmãos, que frequentes vezes tentam até levar comida à sucapa de casa do pai, sendo travados por ele.

Dilemas morais estão aqui presentes mas com mais fácil interpretação e resolução por parte do espectador, todos movidos pela energia e raiva de Leila perante a inabilidade global do patriarcado em sair da esfera da pobreza através de um jogo em que as aparências contam mais. É uma vibrante Taraneh Alidoosti, conhecida dos filmes de Asghar Farhadi (About Elly; O Vendedor), a força motriz de um filme que tem na vertente masculina um elenco notável em toda a excelência de frustrar constantemente a jovem e o próprio espectador.

Frequentemente usado a câmara com close-ups intoxicantes, ou campos e contracampos em ebulição constante que salienta os espaços reduzidos de solitude, Saeed Roustayi entrega ao espectador um espetáculo claustrofóbico do que é viver numa família repleta de personagens inábeis, completamente atropeladas por ações externas que não preveem. É uma mudança de direção interessante de um cineasta que mais uma vez conquista o espectador com um par de reviravoltas que se sentem orgânicas e não colocadas ao serviço do entretenimento.

Pontuação Geral
Jorge Pereira
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