Sábado, 27 Abril

Isabelle Huppert entre a “emoção” de André Téchiné e o “génio” de Hong Sang-soo

Facilmente um dos maiores nomes do cinema atual, Isabelle Huppert mantém-se imparável. Poucos meses depois de surgir como protagonista, no Festival de Turim, no provocante “Marianne” de Michael Rozek, a atriz esteve presente no Festival de Berlim com dois filmes que mostram como gosta de trabalhar com autores: “Les gens d’à côté”, de André Téchiné; e “A Traveler’s Needs”, de Hong Sang-soo.

No caso de Téchiné, foi um reencontro nos sets após a sua última colaboração juntos, que data de 1979: “Les Sœurs Brontë (1979). “Não trabalhávamos juntos há muitos anos, mas fomos sempre mantendo conversas nesse período e sempre manifestamos a intenção de colaborar novamente”, disse Huppert ao C7nema no Hotel Hyatt em Berlim, antes de acrescentar que “foi ótimo reencontrar o cineasta num set”. “Foi uma experiência como a vida. Longa e curta ao mesmo tempo”.

Les gens d’à côté”, de André Téchiné

Escrito por André Téchiné e Régis de Martrin-Donos, “Les gens d’à côté” centra a sua atenção em Lucie (Huppert), uma solitária agente policial do ramo científico que vê o seu cotidiano abalado com a chegada à vizinhança de um casal e da sua pequena filha. Enquanto ela sente afeição pelos novos vizinhos, ela descobre que Yann, o pai, é um anarquista, o que a vai colocar num dilema. “De uma maneira muito subtil, Téchiné emociona e cria cenas tocantes”, diz Huppert, não tomando um partido para definir a sua personagem quando perguntamos se ela é verdadeiramente solitária ou simplesmente ferozmente independente. “Essa interpretação terá de ser feita pelo espectador, mas podemos ver as duas coisas simultaneamente”. Ainda assim, Huppert confessa que o cineasta francês fez um pedido muito explícito, para lidar com a sua Lucie: “O André pediu-me sempre para não fazer uma cara triste ou melancólica, porque a solidão normalmente desperta esses clichés. Ele pediu-me explicitamente para fugir a isso”.

Já em “A Traveler’s Needs“, Huppert dá corpo e alma à jornada de uma estrangeira europeia numa Ásia de signos e modos de ser que não domina. A dimensão da solidão da mulher também é palpável no filme do sul-coreano: ”Ela é solitária, mas também muito engraçada. Na verdade, mostras sempre muitas coisas quando apresentas a solidão no cinema. É como se o mundo inteiro sentasse em torno dessa solidão. Creio que é a única coisa que junta os dois filmes, que são bem diferentes (…) “O Téchiné e o Hong Sang-soo são os dois muito especiais, mas acho o Sang-soo um génio. Uma das coisas que me atrai igualmente na escolha dos filmes que faço são as maneiras diferentes de fazer os filmes. Uma produção de cinema pode ser gigantesca, mas também muito pequena. No final do dia sentes sempre o poder do Cinema. Hong Sang-soo faz filmes em poucos dias. Ele podia fazer 50 filmes por ano (…) Este foi o meu terceiro filme com o Hong Sang-soo e há sempre similaridades entre os papéis que me deu. Ele sempre me vê de certa maneira como uma tonta. Creio que aqui ele mostra a surpresa que pessoas de países diferentes podem ter no contacto com outras culturas. Através da minha personagem, ele mostra as diferenças entre os dois países.

A Traveler’s Needs”, de Hong Sang-soo

Assumindo que continua a sentir-se uma privilegiada por conseguir viver da carreira de atriz, e relembrando quantas pessoas não conseguem fazer o que gostam porque têm de sobreviver e trabalhar no que lhes surge, Huppert manifesta a sua intenção em participar num filme norte-americano que ainda está em desenvolvimento e à procura de financiamento. Por isso mesmo, ela não adiantou detalhes sobre essa produção, mas, até lá, ela poderá ser vista nos cinemas e também no teatro:”Estou numa colaboração com o encenador Romeo Castellucci. É uma peça chamada ‘Berenice’ e vou começar a atuar dentro de 4 dias”.

Notícias