Alerto o leitor que, mesmo sem spoilers, para fins de analogia e de crítica, poderão existir pormenores ou sugestões subliminares quanto ao enredo.

Em jeito de despedida, esta nova trilogia (canónica) de Star Wars chega ao fim com uma questão: será possível ainda contar novas histórias numa mitologia gasta e acorrentadas ao loop analítico dos seus fãs?

A resposta é sim, praticável, o problema é a capitalização, ou melhor, a forma como este universo encontra-se a ser explorado na sombra da Disney, a sua nova proprietária que colocou George Lucas num canto. Primeiro, há uma recorrência constante ao terreno familiar por este legado, a nostalgia mercantil espremida e abusada de forma a deixar cair as réstias do seu sumo. Depois é o senso comum entranhado nas “majors” em relação ao que definem de entretenimento para massas. Por outras palavras, são os enredos minados de rodriguinhos que não deixam margem de surpresa ao espectador. Tudo se torna previsível, mesmo quando um franchise com 40 anos de longevidade deu muito os seus frutos.

O problema aqui, meus caros, não se trata de ser ou não ser adepto destas viagens interestelares, dos duelos de sabres ou do grito característico de Chewbacca. A fraqueza deste registo é não ser esta a história que um fã pediria como desfecho (até Vingadores: Endgame teve mais respeito pelos seus seguidores).

Deixemos então a competência dos desempenhos (Daisy Ridley e Adam Driver continuam como os lemes), a qualidade dos efeitos visuais (até mesmo dos efeitos práticos), ou os episódios diretamente vinculados aos originais (a reciclagem do elenco e as suas respetivas homenagens). Existe por aqui uma euforia em terminar um enredo que segue torto e dorido (The Last Jedi cometeu riscos que não trouxeram benefícios), tudo através de uma narrativa apressada que não dá espaço para desenvolver as personagens secundárias, com twists encaixados com pé-de-cabra e um climax que – por si só – não mereceu a espera. Neste ponto, o culminar é da mais absoluta vulgaridade em termos criativos.

Na verdade, é a indústria a falar mais alto. Sim! Bem sabemos que isto já é uma cantiga velha e impotente, mas a dita industrialização gera uma preguiça artistica, um vazio de ideias, tudo aproximado àquela noção de “fan fiction”. E não é preciso realçar que foi numa galáxia muito, mas muito distante (em 1977 para sermos exatos) que George Lucas, saído de dois filmes tão promissores que eram THX 1138 e American Graffiti, criava uma obra mista de sci-fi e aventura com raízes nas jornadas feudais de Kurosawa e sem medo de cair no ridículo. O resultado disso foi a criação de uma mitologia fresca a caminho de se tornar num dos santos padroeiros da formatação das sagas e histórias milionárias até hoje.

Porém, a fábula já não é mais nova. Ao invés, esta é uma vaca leiteira pronta a ser ordenhada. Nada de novo e inspirador é sugado da sua glândula mamária. Tudo certinho, tudo formal, tudo inconsequentemente vazio.

Pontuação Geral
Hugo Gomes
star-wars-episode-ix-the-rise-of-skywalker-star-wars-episodio-ix-a-ascensao-de-skywalker-por-hugo-gomesQuando um último capítulo de um bilionário franchise não consegue cativar os seus mais aficionados fãs, é porque algo está mal.