Com as notícias de desmatamento do catálogo Fox por parte da Disney, entre as obras canceladas ou “mutiladas” à mercê da política “no smoking“, é gratificante ver um dos sobreviventes dessa remessa apresentar uma protagonista que fume casualmente. 

É um simples pormenor, uma pequena rebeldia contra a doutrinação “disnesca” (obviamente com isto não incentivando as práticas tabagistas) que soa como uma hipocrisia moral. E até nesse ato, o da causalidade, é raro em produções de estúdio, muito mais nos produtos de género atuais, diversas vezes orientados para audiências que vivem os primeiros momentos das suas fases adultas.

Mas passemos ao filme, propriamente dito. Ready or Not, que tem vindo a ser apreciado como a “surpresa do final de verão”, é um primo afastado de Battle Royale que tem como cenário a luxuosidade de uma mansão transladada de gerações a gerações de aristocratas. Uma higienização dos “ricos” que vai ao encontro das suas excentricidades para ocasionalmente expor uma lâmina crítica a esse 1%.

Nessa memória invocada, relembramos o início da caça com The Most Dangerous Game (1932), do mesmo par de realizadores que eternizou-se com King Kong (1933), Irving Pichel e Ernest B. Schoedsack, ou a alienação de Brian Yuzna a classes avantajadas como seres de outra dimensão em Society (1989), enquanto que Ready or Not usufrui dos meios para compor outros fins. Até porque o retrato satírico e algo caricatural é enaltecido pela seu próprio desejo de júbilo e é pena, porque até teríamos aqui um discurso sobre a normalização da violência, hoje tido como “heresia” às susceptibilidades sociais confrontadas com os eventuais massacres que os EUA têm sofrido (The Hunt da Universal não foi poupado dessa sensibilidade).

Enquanto isso, a protagonista Samara Weaving tenta levar a bom porto este exercício de ritmo gratificante, ao mesmo tempo que uma plastificada Andie MacDowell devolve-o à canastrice, assim como a sua realização. Sensação de pouca dura, como tem sido habitual neste verão de escassez.