Pressionada pela culpa, mas movida por um sentido de sobrevivência, Lucia (Alba Rohrwacher) é uma mãe solteira em plenas dificuldades financeiras e sociais que certo dia acaba por testemunhar a Nossa Senhora. Incrédula com o que está perante dos seus olhos, recorre imediatamente a um psiquiatra, tentando encontrar a raiz para estas visões.

Lucia Cheia de Graça tinha dois caminhos óbvios a seguir: ser uma sitcom (corajosa para alguns, herege para outros) ou ser uma dramalhão de crença, porém, decide não ser nenhuma das duas. Gianni Zanasi, o realizador, clamou não acreditar na veracidade das histórias bíblicas, tentando com isto conduzir o filme para um território de superação existencialista, feito que se perde quando o enredo dá lugar as diferentes esquizofrenias, diríamos que são os destinos mais que fáceis a embarcar numa missão de emancipação do filme.

Mas no final de contas, o que evidenciamos nesta aparição é um conto moralista que tenta revindicar terreno no enredo. Meramente desequilibrado no seu tom, assim como no ritmo narrativo,  o filme ora pede emprestado alusões aos mais diversos elementos bíblicos, ora vive encostando a um registo de drama convencional. Porém, existe uma Nossa Senhora nisto tudo. Não me refiro à ousada escolha de Hada Yaron (estrela de filmes judaicos como Noiva Prometida e Félix & Meira) como a divina “Madonna”, mas Alba Rohrwacher que ergue o suposto dramatismo a outro nível. A sua prestação eleva um suposto ridículo a um drama emocional por excelência. Só é pena que o filme não seja cúmplice desse esforço e dos seus olhos que transmitem a mágoa de uma constante infelicidade quotidiana.

Assim sendo, a atriz é a mártir de um filme que se assume milagroso para ser uma somente ocasional.

Pontuação Geral
Hugo Gomes
troppa-grazia-lucia-cheia-de-graca-por-hugo-gomesAlba Rohrwacher lida com um filme esquizofrénico