Photo é a estreia de Carlos Saboga como realizador, uma revisitação aos fantasmas do passado de um país visto como uma demanda em busca de uma entidade paternal. Saboga havia escrito mais de 20 argumentos, divididos entre cinema e televisão, concebido em diversos países para além de Portugal, como Espanha e França. Entre os seus trabalhos destaca-se o bem-sucedido Milagre Segundo Salomé (Mário Barroso, 2004) e a aclamada adaptação do best-seller de Camilo Castelo Branco, Os Mistérios de Lisboa, do chileno Raoul Ruiz, em 2010. Mesmo sendo a sua estreia na cadeira de realizador, esta não é uma experiência nova para o autor, que já exerceu o trabalho de assistente de realização, sendo que Photo serve de certa forma como uma revisão e prática desses mesmos conhecimentos.

Na sua estreia no ramo aos 76 anos, Carlos Saboga apresenta-nos um argumento que faz uso da imaginação do próprio espectador, retratando duas ações temporais que se conetam por via dos diálogos e referências trazidas à luz pelas personagens, não fazendo assim uso dos “flashbacks” nem outros artifícios de facilitismo para invocar o passado, tal modo de operação que difere este Photo do êxito “europudim” de Comboio Noturno Para Lisboa de Bille August, adaptação cinematográfica do romance de Pascal Mercier, que partilha certos pontos em comum, entre os quais a viagem de um estrangeiro à capital portuguesa com o intuito de remexer um passado envolvendo resistência e salazarismo. Nesse aspeto, a jornada levada a cabo pela atriz Anna Mouglalis é mais subtil e mesmo não tendo como base direta a matéria literária como o filme anteriormente referido, é obviamente mais lírico. Representado e dividido narrativamente por capítulos intencionais, tendo como destaque as personagens que vão surgindo nos trilhos inerentes da protagonista, transmite uma sensação algo distinta ao público como se Mouglalis tivesse a folhear um álbum de fotografias em busca do mais intimo pormenor.

Photo é, em suma, uma interessante primeira obra, mesmo que o realizador não seja de facto um inexperiente num ramo do cinema. Discreto e de certa forma nobre, um drama que opera em modo cumplicidade com o espectador e que nele cita o cinema mais clássico do nosso panorama. Vale a espreitadela!

Pontuação Geral
Hugo Gomes
photo-por-hugo-gomesDepois de Comboio Noturno Para Lisboa , Photo irá cair como "déjà vu" na mente do espectador, porém sem razão para tal.