Em cada filme que dirige, João Canijo deposita uma maior realidade nos seus projetos, um realismo que atingiu o seu auge com “Sangue do meu Sangue” (2011), obra que remetia às aventuras e desventuras de uma família residente do Bairro Padre Cruz, em Lisboa, e que resultou num sucesso considerável do cinema português. Em “Sangue do meu Sangue”, Canijo moldou uma linguagem credível nos seus personagens, introduziu diálogos com timings entrelaçados com constantes “atropelamentos” entre eles, coordenou ocorrências em paralelo em modo de split screen cénico, criou uma câmara intrusiva e dirigiu um elenco profissional que sem eles a vertente do realizador resultaria em vão.

Com “É o Amor” (alusão à musica romântica dos artistas brasileiros, Zezé Di Camargo e Luciano), no seu novo filme, o cineasta adquire a fórmula perfeita de fusão entre o cinema ficcional e o documentário (talvez o exemplo mais aproximado da produção cinematográfica com a vida real). Tratando-se da extensão de um projeto inserido no Festival de Curtas-Metragens de Vila do Conde, intitulado de “Obrigação”, “É o Amor” revela-se numa espécie de “chick flick” documental, onde a atriz Anabela Moreira, que trabalhou com Canijo em “Noite Escura”, “Mal Nascida” e “Sangue do meu Sangue”, infiltra-se numa comunidade de mulheres de pescadores de Caxinas, uma freguesia piscatória de Vila do Conde.

No âmbito de trabalho para uma nova personagem, Anabela Moreira acaba por disputar, sem êxito, uma batalha “invisível” pelo protagonismo, em confronto com Sónia Nunes (a qual considera o seu espelho inverso), a líder desta comunidade feminina. Contudo, esta busca pela mulher de Caxinas revelou-se numa análise ao seu íntimo, confrontada com os dilemas amorosos e a relação destas mulheres com os seus “homens do mar” (algo que se traduz quase como obrigação e dever), a atriz questiona a própria definição de amor e tudo aquilo que acredita nesse campo sentimental começa a desabar ao mesmo tempo que renega a sua condição como actriz. Esta subvalorização por parte dela, mostrada na fita através de momentos idênticos a um “reality show”, vai reflectir os pontos fracos da alma de Anabela Moreira, que se apresenta aqui sem capas, apenas crua e sincera e sem medo de expor as suas fragilidades.

Em “É o Amor”, João Canijo tentou concretizar um ensaio, que depressa se converte num estudo ao compromisso romântico e á sua preservação, mas acima disso torna-se na confissão que pretendíamos de uma atriz pela interinidade da sua profissão. Depois de “Trabalho de Atriz, Trabalho de Ator”, documentário complementar de “Sangue do meu Sangue”, confirma-se que Canijo é definitivamente um realizador de atores.

Pontuação Geral
Hugo Gomes
indielisboa-13-e-o-amor-por-hugo-gomesUm documentário que refere que o amor é mais que um compromisso matrimonial, que se metamorfoseia numa análise pessoal à condição de ator.