O filme de Michael Grandage parte do romance homónimo do britânico Berthan Roberts para contar a história de um triângulo amoroso de consequências trágicas: ambientado-se na Inglaterra dos anos 1950, Grandage desenvolve uma narrativa que se ocupa dos contornos mais melindrosos das relações amorosas, isto numa época em que a homosexualidade era crime.

É a história da jovem Marion (Emma Corrin), uma professora que certo verão por entre idas à piscina se apaixona por Tom (Harry Styles), um polícia também ele em início de carreira, num relacionamento que se alimenta da inocência da idade e do amor, uma doçura que se revela invariavelmente cruel pela entrada em cena de Patrick (David Dawson), curador de um museu e amigo íntimo de Tom. Sendo este o nervo dramático do filme, o dispositivo narrativo de “My Policeman” alterna entre dois momentos, duas épocas separadas por cerca de quarenta anos: o que ficou lá para trás na juventude na década de 1950 (o filme acompanha justamente o começo da relação entre Tom e Marion, e vai-se aproximando lentamente da paixão subterrânea que une os dois homens até que “o espírito da época”, chamemos-lhe assim, acabe por impor um fim àquele amor “proibido”); e o presente da ação, que decorre em finais do anos 1990 na cidade costeira de Brighton, um presente onde a leitura de um diário nos transporta para esse passado com tanto de romântico como de traumático.

É uma estrutura que reflete a natureza epistolar e episódica do romance de Roberts, numa lógica um tanto fragmentada da qual Grandage não parece querer retirar grande proveito cinematográfico. Homem com percurso no teatro, Grandage interessa-se sobretudo no retrato psicológico dos personagens, e se é verdade que continuamos a não reconhecer em Harry Styles um ator capaz de qualquer coisa propriamente além do mínimo dos mínimos, encontramos aqui outro ator que chama a si o fundamental do filme, numa interpretação meticulosa feita pelo que de mais elementar pode haver no silêncio e no olhar: David Dawson, enorme, num dos papéis de uma carreira que tem passado relativamente desapercebida.

E o fundamental aqui é também uma história de perdão, ainda que esse arco redentor que tanto parece querer conduzir o filme fique mal resolvido, sobretudo pela forma como os dois tempos da ação se vão desenrolando e cruzando. Se por um lado a dramatização da Inglaterra dos anos 1950 carrega consigo uma incandescência romântica capaz de trazer à memória, ainda que muito à rama é certo, o cinema de um realizador como Terence Davies, até mesmo pelo encanto com que os personagens se descobrem a si mesmos pela força da arte e da fruição estética (as conversas dos três entre idas à ópera, pubs e museus são o lado mais conseguido do filme), a forma como o destino parece forçar o reencontro do trio de protagonistas roça a mais boçal das crueldades. Vítima de um ataque de coração que o deixa debilitado, Patrick regressa à casa do casal graças àquilo que o filme parece entender como um gesto caridoso (a alternativa seria passar os dias num lar), um gesto que Grandage manifestamente não consegue iluminar quando se tem em consideração um percurso de vida injustiçado pela mesquinhez: era só preciso um pouco mais de consciência.

Pontuação Geral
José Raposo
my-policeman-redencao-sem-perdaoHomem com percurso no teatro, Grandage interessa-se sobretudo no retrato psicológico dos personagens.