Do Revenge” é um filme com duas caras. Por um lado, procura situar-se naquilo que podemos designar por comédia de liceu, um género que deve a sua popularidade a um ciclo de produção cinematográfica que atingiu o cume por volta dos anos 1990, e que encenava em maior ou menor pormenor as ansiedades próprias da adolescência, não raras vezes projetando para a arena do liceu algumas dinâmicas do mundo adulto. Por outro lado, o filme de Jennifer Kaytin Robinson (recentemente vimo-la a vestir a pele de argumentista em “Thor: Love And Thunder“) alimenta-se dessa linhagem para tecer uma narrativa pastiche, um corta e cola de referências e piscadelas de olho que empurram o filme para o fundo do saco, que é onde nos últimos tempos mais facilmente encontramos esse frankenstein fílmico dos discursos meta-cinematográficos.

Filmes como “As Meninas de Beverly Hills,” “Giras e Terríveis” e “Estranhas Ligações”, de intensidade mais ou menos sublinhada, de forma mais ou menos assumida, são o ponto nevrálgico de um imaginário que o filme parece querer elevar, ou pelo menos atualizar. E logo por aí que se sente o bluff de um filme que se esforça por dar ares da sua inteligência sofisticada à medida que a história se vai desenrolando: a dada altura uma das protagonistas enleadas num enredo de vingança, está a folhear um romance da escritora Patricia Highsmith  (trata-se do “Strangers on a Train”). Tudo muito de passagem e, enfim, muito poucochinho.

Invariavelmente, tudo em “Do Revenge” é pastilha elástica servida com requinte gourmet: um cuidado evidente que se nota no cromatismo exuberante, mas também na forma como o embalo das canções da cultura popular procura oferecer à narrativa um brilho próximo da vivacidade do videoclip (de Billie Eilish, a Rosalìa, passando por Phoebe Bridgers, há tempo para tudo, ainda que o maior destaque – como bem adivinharam – seja para Olivia Rodrigo).

De certa forma, é também do efeito “Euphoria” (a aclamada série da HBO) que se trata, um maximalismo estético que procura filtrar a sensibilidade do mundo adolescente não tanto pela experiência da vida vivida, mas pelos detritos da cultura popular que moldam a nossa relação com o mundo. O que não quer dizer que a “contemporaneidade” não venha aqui bater à porta: o fundamental da história passa pela divulgação não autorizada de uma sex tape, um acidente (deliberado?) que põe fim ao relacionamento do power couple do liceu (Camila Mendes e Austin Abrams), e que coloca em marcha um plano de vingança (Maya Hawke em papel de grande destaque, apesar de deixar a impressão de estar uns furos abaixo daquilo que poderá vir a fazer), num enredo com os ziguezagues e twists do costume, onde temas com o “sentido da amizade”, o “politicamente correto” e a “sexualidade” são abordados de forma tão passageira como calculista. 

Pontuação Geral
José Raposo
do-revenge-vinganca-calculistaInvariavelmente, tudo em "Do Revenge" é pastilha elástica servida com requinte gourmet.