O Relatório de Auschwitz”, um filme realizado por Peter Bebjak e com Noel Czuzor e Pete Odnreijcka nos papéis principais, apresenta a fuga de dois jovens judeus eslovacos do campo de concentração de Auschwitz como um dos momentos fulcrais para a compreensão da dimensão dos crimes contra a Humanidade cometidos pelos nazis no decorrer da Segunda Guerra Mundial. Com uma narrativa focada no horror experienciado por Alfréd Wetzler e Rudolf Vrba na tentativa de expor as atrocidades cometidas pelo regime de Hitler, o filme insere-se numa linhagem contemporânea de filmes que se aproximam da realidade dos campos de concentração partindo de uma fotografia que não se inibe em procurar literalizar a urgência na documentação daquilo que está em causa quando se fala em crimes contra a Humanidade: filmar o horror e mostrá-lo ao mundo.

É, claro está, um gesto diametralmente oposto daqueles que consideram que o Holocausto se encontra numa espécie de contra-campo inominável. Vrba e Wetzler (e tantos outros milhões) foram da “opinião” (digamos assim) que o horror é para se mostrar, e é perante todos eles que continuamos em divida.  Bebjak, também ele eslovaco, continua esse gesto de humanidade incondicional que opõe a compaixão à barbárie.

Delineada em três atos, a ação acompanha Wetzler e Vrba ainda no campo de concentração, enquanto tentam encontrar um esquema de modo a conseguirem fugir e contarem ao mundo aquilo que os nazis procuravam a todo o custo esconder. É o lado mais “intenso” de um flime que tenta sempre colocar o espectador no centro da ação, e um dos pontos mais interessantes do filme de Bebjak passa pela forma como procura fazer um relato cru dos eventos na mesma medida em que se esforça por evitar uma dramatização sensacionalista.

Nem sempre o consegue, como numa das sequências em que os responsáveis nazis desatam a matar a torto e a direito como expressão de ódio e vingança, mas por outro lado nunca se fica propriamente com a impressão de se estar perante um objeto com uma vontade desmesurada em fazer da morte um espetáculo. Esta atmosfera de pesadelo mais ou menos estilizado tende aliás a dissipar-se a partir do momento em que a dupla se evade a muito custo do campo de concentração, numa viagem que os levará até à fronteira com a Eslováquia para se encontrarem com membros da Cruz Vermelha.

E é neste último ponto que o filme mais diretamente dialoga com o nosso presente, pela forma como os jovens tentam fazer com que o seu testemunho tenha o peso da vontade perante um misto de incredulidade e alguma má vontade da própria Cruz Vermelha. Já com os créditos finais a rolar, ouvimos em off excertos de discursos e conversas de políticos do nosso tempo onde são evidentes os ecos do ódio nazi, num paralelo que parece colocar em evidência aquilo que de mais óbvio há na injustiça: a desgraça é irmã da complacência. Sobretudo nos momentos difíceis – ontem, como hoje.

Pontuação Geral
José Raposo
o-relatorio-de-auschwitz-mostrar-o-horror“O Relatório de Auschwitz” insere-se numa linhagem contemporânea de filmes que se aproximam da realidade dos campos de concentração partindo de uma fotografia que não se inibe em procurar literalizar a urgência na documentação daquilo que está em causa quando se fala em crimes contra a Humanidade.