Ambientado no campo e contra-campo da máquina da justiça, o filme realizado por Bernard Stora faz dos processos em tribunal uma espécie de jogo de pingue-pongue, um jogo que coloca Gilles Fontaine,  um empresário poderoso (Patrick Buel) com reputação duvidosa, na encruzilhada de Luc Germon (Niels Arestrup),  um advogado cheio de truques na manga, uma velha raposa que julga estar sempre um passo à frente do adversário mas que se deixa apanhar numa rede kafkiana, uma teia que invariavelmente foge do seu controlo e que acaba por ditar o seu destino.

É dele o filme, graças a uma interpretação de Niels Arestrup que sabe preencher com um carisma bem vincado as evidentes lacunas da trama de Stora (o argumento é escrito por Pascale Robert-Diard, em colaboração com o próprio realizador): uma presença que nunca cai em histrionismos pirotécnicos nem mesmo quando a doença do pai lhe cai em cima como um peso gigante, um estado de espírito que em boa verdade se vai revelando na bússola e no compasso de toda a narrativa. O que move o senhor Germon? Uma saída de cena discreta mas triunfal num caso paradoxalmente mediático, num processo que envolve a compra de uma villa luxuosa por meios opacos. É esse “virtuosismo” que coloca o advogado na esfera de Fontaine, uma figura que exibe orgulho pela sua capacidade de persuasão, pelo poder que consegue exercer sobre todos aqueles que se atravessam no seu caminho.

Nas sombras do braço de ferro entre Germon e Fontaine e um sistema de justiça ancorado na figura de um juiz todo poderoso e incorruptível, um personagem que contrasta com o ambiente de corrupção generalizada e transversal a todo o sistema de justiça (o que não deixa de ser o tipo de comentário feito com mão pesada da parte do realizador), encontramos também a mulher do empresário, uma presença enigmática e com recorte noir, mas que nunca chega a ter o tipo de desenvolvimento que poderia oferecer outra profundidade a este universo. Experiência frustrante: sempre que aparece no ecrã há a sensação de se estar perante um choque narrativo que nunca se chega verdadeiramente a concretizar. E o mesmo se poderá dizer do jovem velejador que trabalha para a família Fontaine e que é decisivo no “cerco” de Germon: tudo peças fundamentais de um xadrez que lamentavelmente não chega a ser tão sofisticado como nos parece querer convencer, e que a dada altura se deixa antecipar pelas expetativas de um espectador atento.

Em todo o caso, estamos perante um slow burner capaz de manter um mínimo de interesse do princípio ao fim, um filme com uma noção apurada de narrativa que merece a ida ao cinema.

Pontuação Geral
José Raposo
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