Futura, ou o que está por vir””, o documentário assinado por Pietro Marcello (“Martin Eden”), Francesco Munzi (“Almas Negras”) e Alice Rohrwacher (“Feliz Como Lázaro“) é um retrato do nosso presente, mas com os postos olhos no futuro. Enquanto obra coletiva de três nomes de peso do cinema italiano contemporâneo, é a sua dimensão de retrato coletivo ou “geracional” que mais salta à vista: trata-se um de um conjunto de entrevistas a jovens italianos oriundos de diversas classes e contextos sociais elaboradas na sua maioria em pleno período pandémico, onde os realizadores auscultam a forma como a contemporaneidade ora condiciona, ora estimula, o pensamento que os jovens têm de si mesmos e sobre o seu papel na sociedade.

Nele encontramos um mosaico de expetativas e ansiedades: questões sobre a empregabilidade, sobre o papel do estado no meio desse turbilhão que é a formação de cidadãos, mas também questões mais banais, mas que de ligeiro não têm nada, a pressão que as redes sociais exercem nos mecanismos de construção de identidade e na forma como comunicamos com o mundo. E como fio condutor, uma atitude que tem a capacidade de nos por a pensar: um desânimo generalizado em relação à beleza que o mundo tem para oferecer.

Como é hábito neste tipo de experiência, aquilo que pensam sobre o futuro nunca deixa de refletir a experiência que têm no presente, e o documentário deste coletivo tem a qualidade de conseguir fixar o ar do tempo tal como é vivido pela experiência individual de cada um dos jovens. De certa maneira, dir-se-ia que é uma sensibilidade sociológica aquela que mais governa o pensamento cinematográfico de “Futura”, um gesto aliás com uma tradição nobre na história do documentário – pense-se, por exemplo, nessa obra formidável de Edgar Morin e Jean Rouch, “Chronique d’un été (Paris 1960)”, onde a dupla de realizadores perguntava sobre o sentido da felicidade a jovens parisienses; ou no “Place De La Republique” de Louis Malle; ou ainda, e já que estamos em ano de comemoração do centenário do seu nascimento, esse documento sobre questões como a sexualidade e o amor numa Itália conservadora, “Comizi d’amore” assinado por Piero Paolo Pasolini em 1965. “Futura” vai beber a esta fonte e é também por isso interessante procurar antecipar os contornos do seu “envelhecimento”.

Pontuação Geral
José Raposo
futura-o-presente-de-amanhaUm retrato do nosso presente, mas com os postos olhos no futuro