Quatro anos depois de colaborarem em “El Autor”, o realizador Manuel Martín Cuenca e o ator Javier Gutierrez reencontram-se num novo thriller onde a maternidade está em foco do primeiro ao último minuto. Mas mesmo com Gutierrez e Patricia López Arnaiz em boa forma, quem brilha mais intensamente é Irene Virgüez no papel de Irene, uma jovem encerrada num centro de acolhimento que engravida de um rapaz a cumprir pena por roubo.

Arnaiz e Gutierrez recolhem a jovem em fuga na sua casa, tendo o homem a difícil tarefa de manter as aparências em torno do desaparecimento da rapariga, já que trabalha no mesmo centro de acolhimento de onde ela fugiu.

De um drama social com rasgos idílicos de paixão adolescente impossível, “La Hija” passa a passas lentos para um novo registo, o do puro suspense e mesmo horror, quando percebemos que afinal a dupla amável que acolheu a jovem afinal não a deixa sair da casa e tem planos muito próprios para a sua gravidez. 

Socorrendo-se da paisagem, também ela uma personagem, e construindo uma obra em crescendo na tensão e dúvida, Manuel Martín Cuenca, numa primeira fase, coloca os seus peões e dilemas em cima da mesa, criando uma ligação empática entre essas mesmas personagens e o espectador, para mais tarde revirar o filme do avesso e colocar o predador a ter de fugir da presa. 

A estrutura de poder, o educador e o educado, o salvador/pessoa em fuga, o bem na vida e o entregue à segurança social, desempenham um papel importante desde o início do filme, tomando a revolução ou reviravolta que ocorre um caso onde se pode adquirir múltiplas leituras, embora o caracter de entretenimento do filme seja sempre o primordial.

No final temos assim um filme surpreendente que, embora não invente a pólvora, consegue agarrar o espectador num jogo tão físico como psicológico de sequestro do livre-arbítrio. E tudo através de uma adolescente que entra numa casa em fuga e sai de lá adulta e livre.

Pontuação Geral
Jorge Pereira
la-hija-thriller-com-garras-surpreende-ate-ao-fimEmbora não invente a pólvora, consegue agarrar o espectador num jogo tão físico como psicológico de sequestro do livre-arbítrio