A dor de perder um ente querido tem servido como base para alguns títulos absolutamente essenciais no cinema, tendo na última década sido chave de objetos cinematográficos dramáticos como “O Quarto do Filho”, ou até filmes de suspense e horror como “Hereditary” ou “A Monster Calls”.

Pegando num guião de Santiago Loza, Iván Fund cria um conto sobre o peso da memória e o luto, trabalhando em terrenos que pisam o realismo mágico do cinema fantástico (à la Guillermo del Toro, por exemplo) para contar a história de um casal – Bruno e Greta (Marcelo Subiotto e Mara Bestelli) – que vive num local outrora paradisíaco (uma casa de praia frente ao mar) e que agora tem num dos seus recantos uma plataforma industrial. 

Se essa presença aberrante (visualmente) se afigura como um monstro na paisagem, ela não é a única criatura – além de vários demónios internos-  com que a dupla terá de lidar durante este filme, que começa com a chegada de uma amiga deles, Sina (Maricel Álvarez), um ano depois da tragédia da perda do filho, para os ajudar na venda da casa e nas mudanças.

A existência da suposta criatura na região foi, aliás, a razão que levou o pequeno Denis (Jeremías Kuharo), um fanático de videojogos e kaijus, a sair de casa uma noite e não mais regressar.  Progressivamente e nesta jornada de pesar (luto pessoal, mas também ecológico), se as imobiliárias locais tentam explorar a mitologia da criatura numa espécie de Lago Ness, Bruno e Greta parecem tentar livrar-se o mais rapidamente possível das memórias que o local lhes trás, isto até progressivamente começarem a entrar em sintonia com o mundo imaginário do filho, sempre num processo de cura à dor da sua ausência.

Se há filmes que vagueiam permanentemente entre o real e o mágico, ou se destacam efetivamente como drama e suspense, “Piedra Noche” é um deles, um registo sempre doloroso e onde o processo de cura é o foco, não interessam os meios.

Pontuação Geral
Jorge Pereira
piedra-noche-perda-kaijus-e-curaUm registo sempre doloroso e onde o processo de cura é o foco, não interessam os meios