Quinta-feira, 28 Março

Sessões na Cinemateca – Escolhas de 19 a 24 de outubro

Além da mudança de hora para o horário de inverno (na noite de sábado, dia 24, “ganharemos” uma hora em Portugal), também na Cinemateca esta é uma semana de transição. As últimas oportunidades de (re)conhecer Delphine Seyrig, cuja filmografia como atriz e realizadora tem sido o foco da colaboração da Cinemateca com a 21ª Festa do Cinema Francês, dão a vez à parceria com o DocLisboa, que se materializa numa extensa retrospetiva dedicada à cinematografia da Geórgia. Esta viagem cinematográfica inicia-se nos anos 1910 e prolonga-se aos dias de hoje, atravessando todas as épocas do cinema georgiano dos primórdios à atualidade, destacando-se a riquíssima produção feita durante o período em que o território integrou a URSS. De uma retrospetiva a outra, saltamos de França para a Geórgia para continuar a descobrir o deslumbre do cinema.

Estas são as nossas sugestões para as sessões a decorrer na semana de 19 a 24 de outubro:

La Musica (1966) – Terça-feira, 20 de outubro, 15h30, Sala M. Félix Ribeiro. O primeiro filme de Marguerite Duras foi o primeiro Duras com Delphine Seyrig. A partir da peça homónima da cineasta sobre “ela e ele”, em La Musica seguimos um casal separado que se reencontra três anos depois da separação para recolher a sentença de divórcio. O casal protagoniza uma fabulosa cena fantasmática num átrio de hotel neste que é um filme belíssimo. É de Seyrig que Duras dirá: “O único entrave à sua liberdade é a injustiça de que os outros são vítimas”.

– Vertigo (A Mulher Que Viveu Duas Vezes, 1958) – Quarta-feira, 21 de outubro, 15h30, Sala M. Félix Ribeiro. Duas mulheres que são uma só e um homem que numa procura recriar a imagem que tem da “outra”. Diz-se que Hitchcock só filmou histórias de amor – se dúvidas houvesse, “Vertigo” dissipava-as. É só a paixão (que chega à necrofilia) que motiva o protagonista desta obra-prima. Algumas das mais extasiantes cenas do filme passam-se dentro de um museu, com Kim Novak inebriada diante do quadro que a obceca fazendo de James Stewart um espectador inebriantemente obcecado por ela. A mais fantástica é a do quarto de hotel em que, sob uma luz transfiguradora, Novak toma definitivamente a forma da mulher desejada por Stewart e aos olhos dele.

Muriel ou Un Temps d’un Retour (Muriel ou O Tempo de um Regresso, 1963) – Quarta-feira, 21 de outubro, 21h30, Sala M. Félix Ribeiro. Alain Resnais entregou o papel da jovem viúva Hélène Aughain a Delphine Seyrig (prémio de interpretação no festival de Veneza 1963), com quem já filmara em “L’Année Dernière à Marienbad” (1961, a primeira, notável, longa-metragem da atriz). Seguindo a história da protagonista de 40 anos (bastante mais velha que a à época jovem Seyrig), num momento de reencontro com o homem que amara na adolescência, e uma segunda linha narrativa centrada no jovem enteado de Hélène, atormentado por lembranças da Guerra da Argélia, Resnais assina um filme de planificação e montagem extremamente elaboradas. Refletindo as feridas do tempo e a obsessão da memória, “Muriel” é uma obra avassaladora.

Marili Svanets / Djim Chvante (O Sal da Svanécia, 1930) – Quinta-feira, 22 de outubro, 19h00, Sala M. Félix Ribeiro. Este é o filme em que o veterano Mikhail Kalatozov (que arrecadou a Palme D’Or pelo magistral “Quando Passam as Cegonhas” em 1958) percorre uma das regiões mais remotas do Cáucaso georgiano, onde o isolamento ajudou a preservar a autonomia do povo – mas à custa de dificuldades inaceitáveis nos novos tempos soviéticos. Cineasta avesso às formas convencionais, Kalatozov “transformou um conto proto-realista-socialista numa expressão da noção filosófica clássica do ‘sublime dinâmico’, relacionado com a natureza e com a existência humana” (Serguei Kapterev).

– Grdzeli Nateli Dgueebi (Eka e Natia, 2013) – Quinta-feira, 22 de outubro, 21h30, Sala M. Félix Ribeiro. Duas adolescentes, Eka e Natia, vão preservando a sua amizade na Tbilissi de 1992, abalada pela guerra civil e o rescaldo de um golpe de estado. Narrativa de crescimento acelerado e ilusões desfeitas, este filme é também uma crónica da resistência pessoal à lógica da violência. Esse questionamento, comum a uma parte do cinema georgiano contemporâneo, é o que abranda as histórias e a sua vertigem, para preservar a evocação dos “longos dias claros” mencionados no título original. No sábado, 31 de outubro, às 15h30, o filme voltará a ser exibido na Sala M. Félix Ribeiro.

– Simindis Kundzuli (A Ilha do Milho, 2014) – Sábado, 24 de outubro, 21h30, Sala M. Félix Ribeiro. Um extraordinário filme que descreve as ilhas férteis formadas pela torrente anual do rio Inguri, logo ocupadas por camponeses na esperança de uma colheita compensadora. Avô e neta, abecazes, ocupam uma delas, sob o olhar intimidante de militares da Abecázia, Geórgia e Rússia que patrulham as imediações. Tradição ameaçada pela imprevisibilidade do clima e dos homens, o milho fluvial ganhou a sua memória definitiva com este filme de Guiorgui Ovachvili, prémio principal em Karlovy Vary, onde foi estreado.

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