Domingo, 5 Maio

Sessões na Cinemateca – Escolhas de 11 a 16 de abril

Em colaboração com a Festa do Cinema Italiano, a Cinemateca apresenta este mês um programa intitulado “Pasolini Revisitado”, em que se pretende investigar os vários modos da relação de Pier Paolo Pasolini com o cinema, e do cinema com ele, celebrando-se o ano do centenário do seu nascimento. Este ciclo tem duas vertentes: por um lado, apresenta filmes que contaram com a participação ativa de Pasolini (como argumentista, produtor, ator, etc.), em que é fascinante procurar os traços da sua presença e detetar o que ele trouxe ao universo de outros realizadores; por outro lado, incluem-se filmes, todos ou quase todos posteriores à sua morte, em que Pasolini se faz ainda uma presença, refletindo a perenidade do seu legado. Esta viagem pela influência de Pasolini enquadra ainda a apresentação, que não podia também faltar, de alguns dos títulos maiores da sua obra enquanto realizador, como é o caso dos três filmes escolhidos esta semana.

A completar as nossas recomendações está ainda uma sessão do programa “José Mário Branco – A Morte Nunca Existiu”, que celebra a passagem do músico e compositor José Mário Branco pelo cinema. A sua relação com o cinema português é especialmente importante: as suas canções foram usadas por vários filmes, mas houve também realizadores que o chamaram a compor expressamente para cinema – sendo porventura mais flagrante o caso de Rio Do Ouro, de Paulo Rocha, que sustenta na música e nas canções de José Mário Branco uma parte substancial da sua atmosfera melodramática de grande filme musical popular. É precisamente esse filme que selecionamos esta semana.

Estas são as nossas sugestões para as sessões a decorrer na semana de 11 a 16 de abril:

Mamma Roma (1962) – Segunda-feira, 11 de abril, 21h30, Sala M. Félix Ribeiro. Segunda longa-metragem de Pasolini, Mamma Roma prolonga as opções de mise-en-scène e o universo de Accattone, o seu primeiro filme. Trata-se da história de uma mulher que abandona a prostituição para viver com o filho adolescente, mas tudo terá um fim trágico. Se a primeira parte do filme é marcada pela presença poderosa de Anna Magnani, a segunda concentra-se no filho, encarnado por um ator amador. O filme fecha o período da obra de Pasolini que reata com alguns elementos do neorrealismo, que ele considerava “o primeiro ato de consciência crítica” do cinema italiano.

Comizi D’Amore (Assembleia de Amor, 1963) – Quarta-feira, 13 de março, 21h30, Sala M. Félix Ribeiro. Profundamente interessado pelo tempo em que vivia, Pasolini deu este filme um exemplo notável do que se chamava a época o “cinema-verdade”. Trata-se de um inquérito sobre a sexualidade, que levou Pasolini de norte ao sul de Itália, interrogando intelectuais, operários, camponeses, soldados, burgueses, jovens, velhos, homens e mulheres, fazendo-lhes perguntas sobre a sexualidade, num filme realizado no limiar da grande revolução sexual dos anos 60. Indiretamente, o filme acabou também por servir como “repérages” para O Evangelho Segundo S. Mateus, que Pasolini pensara filmar na Palestina, mas que acabou por filmar em Itália.

Il Decameron (1971) – Quinta-feira, 14 de abril, 15h30, Sala M. Félix Ribeiro. Com este filme Pasolini inaugura a chamada “Trilogia da Vida” completada por Os Contos De Canterbury e As Mil e Uma Noites. Adaptando alguns contos de Bocaccio, Il Decameron é sem dúvida o filme mais facilmente acessível de Pasolini, realizado quase inteiramente num tom cómico, com elementos próximos do slapstick. Neste filme “alegre, estranhamente alegre”, Pasolini dilui o seu sistema de cinema, de modo deliberado e controlado, para atingir o grande publico. O filme voltará a ser exibido a 20 de abril, quarta-feira, pelas 21h30 na Sala M. Félix Ribeiro.

O Rio do Ouro (1998) – Quinta-feira, 14 de abril, 19h30, Sala Luís de Pina. Inspirado em cantigas populares, romances de cordel e dramas “de faca e alguidar”, O Rio do Ouro foi aclamado pela crítica depois da sua estreia mundial em Cannes, sendo, para alguns, a obra-prima de Paulo Rocha. Um filme possuído por uma forca telúrica, onde pulsam a paixão e a violência, dominado pela “parte maldita”, com a paisagem do rio Douro ao fundo. José Mário Branco, para além de autor da música original do filme, interpreta o papel do cantor do acordeão, na inesquecível cena da Estação de comboios de S. Bento.

Nota: Na segunda-feira, 11 de abril, volta a ser exibido Le Notti Di Cabiria (As Noites de Cabíria, 1957) pelas 19h, na Sala M. Félix Ribeiro, filme recomendado pelo C7nema na semana passada.

Notícias