Segunda-feira, 6 Maio

Sessões na Cinemateca – Escolhas de 4 a 9 de abril

Em colaboração com a Festa do Cinema Italiano, a Cinemateca apresenta este mês um programa intitulado “Pasolini Revisitado”, em que se pretende investigar os vários modos da relação de Pier Paolo Pasolini com o cinema, e do cinema com ele, celebrando-se o ano do centenário do seu nascimento. Este ciclo tem duas vertentes: por um lado, apresenta filmes que contaram com a participação ativa de Pasolini (como argumentista, produtor, ator, etc.), em que é fascinante procurar os traços da sua presença e detetar o que ele trouxe ao universo de outros realizadores; por outro lado, incluem-se filmes, todos ou quase todos posteriores à sua morte, em que Pasolini se faz ainda uma presença, refletindo a perenidade do seu legado. Esta viagem pela influência de Pasolini enquadra ainda a apresentação, que não podia também faltar, de alguns dos títulos maiores da sua obra enquanto realizador. Em destaque esta semana estão quatro grandes obras da História do cinema italiano.

Presente na Cinemateca esta semana estará Jon Jost, uma figura destacada do cinema independente norte-americano, responsável uma obra cinematográfica singular e marcada pelo experimentalismo, fruto de um labor artístico que se alarga às áreas da instalação, da pintura e da escrita. O realizador vem a Lisboa para apresentar um ciclo de filmes inéditos e também para mostrar a versão restaurada digitalmente de uma das suas obras em película mais importantes, que integra as nossas recomendações de sessões a não perder.

A completar as escolhas da semana está ainda a sessão na Cinemateca Júnior, que conta com um filme capaz de deslumbrar os espectadores de todas as idades.

Estas são as nossas sugestões para as sessões a decorrer na semana de 4 a 9 de abril:

Le Notti Di Cabiria (As Noites de Cabíria, 1957) – Segunda-feira, 4 de abril, 15h30, Sala M. Félix Ribeiro. Um dos filmes mais amados de Federico Fellini (com colaboração de Pasolini no argumento), que mostra as aventuras e desventuras de uma prostituta romana, que nunca perde a fé nos milagres divinos e no milagre do amor, é sempre vencida, mas não desiste. Cabíria, a mais chapliniana das criaturas de Fellini, misto de títere e personagem de melodrama (a cena do seu desengano, no desenlace, é profundamente emocional), também é um dos mais célebres papeis de Giulietta Masina e aquele com que ela mais se identificou. André Bazin escreveu que o filme “rematava” o neorealismo, “ultrapassando-o numa reorganização poética do mundo”. A sessão repete-se na segunda-feira, 11 de abril, pelas 19h na Sala M. Félix Ribeiro.

Accattone (1961) – Segunda-feira, 4 de abril, 19h00, Sala M. Félix Ribeiro. Filme de estreia de Pasolini, então com 39 anos e já considerado como um dos nomes mais importantes da literatura italiana (o filme transpõe o seu romance Una Vita Violenta). É a trágica história de um pequeno proxeneta de um subúrbio de Roma, num filme avesso a qualquer otimismo, realizado de modo “amador”, como diria o próprio Pasolini. Accattone é típico das mudanças trazidas ao cinema neste período, na medida em que marca a chegada ao cinema de um realizador “não cineasta”, alguém que não seguira o itinerário habitual de um realizador de cinema. Também típico é o interesse de Pasolini pelo subproletariado, visto pelo prisma da tragédia individual.

I Fiore delle Mille e una Notte (As Mil e Uma Noites, 1974) – Terça-feira, 5 de abril, 22h00, Sala M. Félix Ribeiro. Terceiro episodio, sem dúvida o mais belo, da “Trilogia da Vida” em que cabem igualmente Decameron e Os Contos De Canterbury. Pasolini aboliu a personagem de Xerazade da sua versão de As Mil e Uma Noites, que filmou em diversas regiões do mundo islâmico (Irão, Iémen, Etiópia). Tendo como eixo narrativo a história de um rapaz que sai em busca da escrava e amante que fora raptada, Pasolini narra diversas histórias, que se encaixam umas nas outras, umas graves, outras cómicas, num filme que é um canto ao prazer físico. “A verdade não está num sonho único, a verdade esta em muitos sonhos.” Uma segunda exibição do filme terá lugar dia 28 de abril, quinta-feira, às 15h30 na Sala M. Félix Ribeiro.

Il Vangelo Secondo Matteo (O Evangelho Segundo S. Mateus, 1964) – Quarta-feira, 6 de março, 21h30, Sala M. Félix Ribeiro. Pasolini declarou a propósito deste filme, cujo título original é O Evangelho Segundo Mateus e não segundo “São Mateus”: “Não creio que Cristo seja filho de Deus porque não sou crente. Mas creio que Cristo é divino: creio que nele a humanidade é tão alta, rigorosa e ideal que vai além dos termos comuns da humanidade”. Dedicado ao Papa João XXIII, o filme lança um olhar moderno sobre a palavra de Cristo, inscrevendo-a numa paisagem intemporal que tanto se refere ao passado como ao presente, com um Cristo reivindicativo, quase duro, um porta-voz dos danados da Terra.

The Bed You Sleep In (1993) – Quinta-feira, 7 de abril, 21h30, Sala M. Félix Ribeiro, com a presença do realizador. Situado numa serraria em Oregon, este filme de Jon Jost acompanha Ray e Jean, um casal de operários de uma serraria que enfrenta uma crise quando recebem uma carta da filha na qual acusa o pai de abusos sexuais na sua infância. O filme delineia simultaneamente o retrato de uma cidade, revelando, a par da história, os traços e as qualidades de uma comunidade mais alargada. No Festival de Berlim de 1993, o filme recebeu uma distinção especial na secção Forum.

The Thief of Bagdad (O Ladrão de Bagdad, 1940) – Sábado, 9 de abril, 15h00, Salão Foz. Filme de realização verdadeiramente coletiva (“meu, dos irmãos Korda, e de alguns outros”, segundo Michael Powell), The Thief Of Bagdad é um dos mais extraordinários espetáculos de aventuras feéricas da História do cinema, cheio de maravilhosos efeitos especiais, capazes de levar todos os espectadores às mil e uma noites, pela beleza e pelo deslumbramento que provoca. À época isso valeu ao filme três Oscars, pela fotografia, pelos efeitos especiais e pela direção de arte. Um filme mágico.

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