Em particular seguimos a história de Hatidze, uma solitária mulher de 50 e poucos anos que vive com uma mãe moribunda num território inóspito e isolado e que colhe mel das colmeias selvagens de maneira sustentável e tradicional.

Com o rosto marcado pela vida e pelo passar dos tempos (nunca casou e pergunta porque sempre lhe foram negados os pretendentes), ela tagarela à luz natural da lareira com uma mãe que sente que é um fardo para a filha; “Eu não estou a morrer, apenas estou a tornar a tua vida miserável“, diz a matriarca proscrita a uma cama num determinado momento, não tendo ainda noção que o verdadeiro fardo e calvário para a existência das duas será a chegada de uma família numerosa que opera em maior escala, ameaçando assim a sua subsistência tradicional e os escassos recursos da região.

O que é tão fascinante como frustrante neste trabalho de pura observação, é que seria relativamente fácil vilanizar os novos vizinhos de Hatidze, mas na verdade estes são pessoas afogadas em dívidas e pressionadas por um comprador (que representa na perfeição todo o sistema capitalista) que explora recursos de forma ininterrupta sem pensar nas consequências para o futuro. E se há um tirano aqui é esse sistema que põe em causa a sustentabilidade da própria vida, e produz fome sistémica pela exploração desenfreada para um planeta cada vez mas superpopulado. Isso mesmo vê-se quando muitas cabeças de gado dessa família sucumbem, entre a fome e a doença, provocando a desgraça na mente um pai que não consegue transmitir aos filhos o seu modo de vida.

No final temos um objecto profundamente sensorial, sensível e melancólico na abordagem à (de)humanidade e ao passar dos tempos, onde o fosso entre ricos e pobres cada vez é mais vincado, e os conflitos geracionais adensam a questão do fim das tradições e a descoberta de novos mundos longe do campo.

Um belíssimo trabalho de Tamara Kotevska e Ljubomir Stefanov .

(crítica originalmente escrita em dezembro de 2019)

Pontuação Geral
Jorge Pereira
Guilherme F. Alcobia
honeyland-por-jorge-pereiraFilmado durante três anos no norte da Macedónia, Honeyland é um triunfo visual e alegórico, na forma como através de um pequeno microcosmos e da história particular de uma família observa atentamente como o mundo se comporta.