Quinta-feira, 2 Maio

Veneza: «Why don’t you play in Hell?» por Fernando Vasquez

Sion Sono é um caso ímpar no cinema asiático moderno. Em pouco mais de uma década conseguiu construir uma obra que tem tanto de ecléctica como arrojada. Desde a famosa trilogia do “Ódio” até ao filme de culto Suicide Club, em todos os momentos conseguiu atrair respeito e atenção suficiente, que lhe valeram vários prémios nos festivais de Berlim, Chicago, Toronto e Karlovy Vary, tornando-o numa referência mundial.

O seu mais recente filme, Why don’t you play in Hell?, dificilmente atrairá tanto reconhecimento dentro da industria, que sempre abominou tais extravagancias, mas promete fazer milagres entre as legiões de fãs do Gore e Yakuza, ja para não falar de todos aqueles sedentos de algo novo, e em estado terminal após overdoses múltiplas do minimalismo que abunda e prolifera fora dos circuitos comerciais.

Why dont you play in hell? conta-nos a historia de dois clãs rivais da máfia Yakuza e de um jovem grupo de cineastas amadores que ambicionam fazer o filme mais explosivo da historia da sétima arte.

Muito superficialmente esta é a historia possivel, pois qualquer sinopse deste filme está condenada ao fracasso. Desta feita Sion Sono declara-se demasiado distraído, impaciente e ambicioso para se deixar constringir por detalhes narrativos. Desenganem-se no entanto aqueles que encontram neste ponto uma falha pois Sono fez bem em arriscar. Não se trata de uma luta entre narração linear ou abstrata, mas sim do arrojado ato de explorar o absurdo para transmitir ideias frescas e pertinentes.

Entre outras, e de longe a mais interessante, é o da nostalgia e paixão pelo moribundo cinema analógico, numa altura em que a revolução digital até os projetores nos esta a levar e as novas gerações, segundo Sono, já nem sabem o que é uma película.

Mas acima de tudo, o filme requer uma mente aberta e despreocupada com identificações temáticas, até porque se trata de uma comédia absurda, e como tal esta Yakuza é mais Duarte e Companhia do que Takeshi Kitano, e estes jovens cineastas mais Troma Entertaiment do que Kurosowa.

Importante a reter é que Why don’t you play in Hell? está temperado com uma inovadora dose de truques de estilo, uma edição devoradora e uma banda sonora desenvergonhada, produzida pelo próprio Sion Sono, que nos embala como um exercito fiel numa expedição hilariante, com massacres e parodias que, felizmente, ultrapassam a barreira do bom gosto com grande frequência.

Recomendável a todos aqueles que gostam de cinema sem pudor.


Fernando Vasquez

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