A.C.A.B. é um acrónimo usado para definir a expressão All Cops are Bastards. A sua génese tem várias décadas, mas foi o movimento punk nos anos 70 e mais recentemente os holligans e ultras ligados ao mundo do futebol que mais o utilizaram/utilizam, muitas vezes musicalmente ou como tatuagem, para expor a sua relação de antipatia (para não dizer de guerra) com a polícia e as forças da lei, especialmente a polícia de intervenção (ou «Celerino» como se diz em italiano) .
Neste filme seguimos um grupo de polícias de intervenção nas suas mais variadas atividades, sejam estae ligadas ao acompanhamento de claques de futebol, à ajuda no desalojamento de pessoas que ilegalmente ocupam edifícios, ou outras situações em que haja hipótese de desordem. Esta é uma profissão repleta de perigos e o filme não perde tempo em mostrar o perigoso em que estes homens vivem e onde só podem confiar nos colegas que estão ao seu lado. Por outro lado, o filme joga também com a vida pessoal de cada uma das suas personagens, tendo estas os mais diversos problemas, sejam estes dramas com os filhos, com as mulheres ou até mesmo com o próprio estado. É a contar as suas histórias e o seu trabalho que também se contam alguns dos maiores problemas sociais da sociedade italiana e mesmo europeia, como rivalidades entre claques de futebol, problemas com a imigração ilegal, o ressurgimento da extrema direita e, claro, a criminalidade e os delitos rotineiros.
Mas mais que simplesmente contar uma história baseada em personagens cliché – que o são – o realizador desta obra (Stefano Sollima, em estreia no cinema) dá uma verdadeira tridimensionalidade ao seu filme, e não falamos em termos de imagem. Na verdade o argumento desta história tem mais camadas que uma cebola e faz um excelente apanhado da Europa actual, não deixando imunes a classe política, as forças da lei e os criminosos em si, porque é na fonte de poder – e no abuso deste -que tudo reside, sejam polícias, ladrões, políticos ou o cidadão comum.
Com isto, «A.C.A.B.: All Cops Are Bastards» faria uma excelente sessão dupla com outro filme italiano visto esta temporada: o poderoso «Diaz –Don’t Clean Up This Blood» (ler critica). Não é à toa que os próprios polícias desta fita fazem referencia no final da obra ao que aconteceu em Génova a 21 de julho de 2001. «Lembram-se de Génova? Hoje vamos pagar essa fatura»…
A não perder…
| Jorge Pereira |
