Sexta-feira, 3 Maio

IFF Roterdão 2012: «Klip» por Jorge Pereira

«Klip»: sexo, repressões, violência e telemóveis numa «coming-of-age» honesta e incomum 

Quando Larry Clark apresentou ao mundo «Kids» em 1995 provocou uma forte comoção a nível global. De discursos inflamados, a perfis sociológicos, o filme foi analisado de todas as maneiras e feitios, especialmente porque expunha de uma maneira crua, cruel e doentia uma adolescência como nunca se vira no cinema. Quando surgiu em 2002 «Ken Park», de certa maneira uma continuação desse trabalho, o mundo revirou ainda mais os olhos pois desta vez era introduzido a universo adolescente o tom de sexo explícito. Banido em diversos países, a obra tornou-se outro marco no transgredir as regras, em lidar com assuntos tabu, a exploração da sexualidade e a rutura interna das emoções provenientes da disfunção familiar.
 
«Klip» embarca nesta linha, e apesar de haver uma certa tendência para compará-lo ao trabalho de Clark, na realidade há uma certa unicidade e diferenciação na abordagem, até porque entretanto já surgiram alguns exemplos no cinema nórdico que de certa maneira focavam o fascínio do filmar todos os eventos, especialmente os com um teor sexual. Basta lembrar «Involuntary» de Ruben Ostlund ou «MollyCam».
 
 
 
Ainda assim, que fique bem claro. «Klip» tem sexo explícito, violência e drogas, muitas drogas, o que afasta qualquer pretensão que o filme tenha nos EUA e o coloca em dificuldades de exibição em outros países anglo-saxónicos.
 
Construído com um baixo orçamento, a jovem cineasta Maja Milos conta a história de um grupo de adolescentes no seu  dia a dia, seguindo particularmente Jasna (estonteante interpretação da jovem Isidora Simijonivic), uma rapariga reprimida e revoltada com a doença do pai e em plena exploração sexual do seu corpo, num mundo juvenil obcecado pela imagem e o poder desta.
 
 
 
Assim, as primeiras cenas do filme parecem saídas do Hi5, onde vemos Jasna mais as amigas a prepararem-se para uma noite de farra, regada a álcool, drogas e de preferência sexo. O telemóvel segue-as para todo o lado e é uma ferramenta quotidiana, captando todos os momentos dos eventos, para mais tarde recordar. Rapidamente temos acesso a cenas de sexo, explícito e hardcore, que demonstram a banalidade que este se tornou nos dias de hoje o ato sexual para estes adolescentes. Se repararmos bem, a suposta ordem moral das coisas está toda trocada neste filme, sendo o sexo quase uma forma de conhecer as pessoas e só mais tarde, quando se assume uma espécie de relação (ou companheirismo) é que chega o beijo. Não estranhem por isso se na primeira hora assistem a sexo entre as personagens principais e só muito mais tarde a esse beijo, ao dar as mãos, ao trocar números de telemóveis, e a algumas conversas mais íntimas. Isto por esta ordem de eventos, quebrando assim diversos convencionalismos e apresentando adolescentes que não pensam, por um minuto, no amanhã, mas apenas no hoje e nas emoções imediatas. No já. Numa vida em «Clips». Na diversão (seja esta o sexo, as drogas, a destruição, o bullying) para ocultar dores interiores, sejam estas fruto da própria natureza das coisas ou atos mimados e egoístas de proteção muito própria.
 
Como tal, «Klip» acaba por ser uma bomba no tabu do mundo dos adolescente, que vai certamente mexer, e muito, com as audiências, que se esperam vastas, pois este filme terá – certamente – uma longa carreira no mundo dos festivais de cinema e alguns cinemas arthouse.
 
 
 

Maja Milos e o seu filme

Com vinte e oito anos de idade, a jovem Maja Milos sabe que o seu filme será desconfortável de se assistir. Para ela, uma das coisas mais importantes ao filmar esta obra é que «tudo foi muito aberto e claro e toda a gente sabia de tudo. Não quis esconder nada. Não queria fazer um grande alarido com o sexo no filme.». Ela seguiu todas as cenas do filme com os pais dos jovens atores. «Tinhamos tudo preparado, até por razões práticas pois tínhamos de ter duplos corporais, e por aí fora. Eles esperavam muito do filme e não os queria desapontar (os pais e os filhos). Foi uma das melhores coisas do filme.»

Preparar um filme desta linha exigiu uma vastíssima preparação. Para isso ela fez o casting durante dois anos e mais intensamente durante oito meses. «Falei uma hora com cada pessoa, por isso falei com muita gente jovem. Perguntei o que pensaram da sua experiência. Claro que nem todos tinham vídeos seus de sexo, mas a maioria conhecia alguém que tinha»
 
http://www.youtube.com/watch?v=2e_G2UX6tCQ 
 
Jorge Pereira 
 
 
 

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